segunda-feira, 30 de julho de 2007

Adamastor e Dr. Pinotage

O vinho da África do Sul deve tributos aos navegadores que desafiaram Adamastor. O gigante mitológico cantado por Camões (n'Os Lusíadas) é marcante imagem literária de uma natureza feroz agindo contra desbravadores que tentavam atravessar o Cabo das Tormentas (também da Boa Esperança), no extremo sul do continente. No século XVII, barcos da Companhia Holandesa das Índias Orientais enfrentavam com destemor o mar bravio da região, rumo ao Índico. Seus tripulantes ali fundaram a primeira colônia e passaram a cuidar de uvas e de vinhos, abastecendo mercadores na luta contra outros gigantes dos mares. O primeiro vinho de prestígio foi o branco doce Constantia, de uvas Moscatel. Mas o de maior originalidade nasceu das mãos de Abraham Izak Perold (1880-1941), Ph.D. em Química, então professor da Universidade de Cape Town. Perold percorreu o mundo atrás de variedades que pudessem ser cultivadas naquele pedaço da África. Mas foi além. Como primeiro professor de Viticultura da Universidade de Stellenbosch cruzou a Pinot Noir, a uva dos Borgonha tão querida dos franceses, e a resistente Cinsault. Conseguiu, em 1924, quatro sementes, plantadas no quintal da residência oficial. Ao ser transferido, entretanto, deixou a experiência para trás. Tempos depois, outro mestre, Charlie Niehaus, passeando de bicicleta perto da antiga casa de Perold, notou jardineiros em sua azáfama. E conhecedor da pesquisa com as sementes, salvou-as da sanha dos carpidores. Estas foram replantadas na incubadora da universidade. Nascia a Pinotage, ainda pouco compreendida, mas que pode bem entrar na cota da retomada da viticultura pós-Apartheid.

http://www.pinotage.co.za/html/birth.html

http://www.wineanorak.com/toptenpinotage.htm

DC 21/7/2006