segunda-feira, 30 de julho de 2007

A despensa do Dragão

A kombi vermelha, a "casa rolante" do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984), era chamada de Fafner, nome do dragão que guardava o tesouro dos Nibelungos. "Obstinada predileção wagneriana", dizia Cortázar. Foi nesse "dragão" que ele e a mulher, Carol Dunlop, empreenderam uma viagem insólita pela auto-estrada que liga Paris a Marselha. Durante 30 dias, a partir de 23 de maio de 1982, marcaram ponto em dezenas de parkings ao longo da rodovia, numa espécie de jogo com a realidade das margens, documentado com poéticos detalhes em Os Autonautas da Cosmopista (Editora Brasiliense/1991). Para enfrentar a jornada, Fafner ganhou um estoque de alimentos. Os viajantes foram contidos nas guloseimas, mas uma das listas para a sobrevivência foi encabeçada com "whisky (à beça)". E vinho, também à beça. As refeições eram feitas quase sempre na kombi. Na apresentação do livro, Cortázar faz questão de revelar a emoção que sentiu ao receber a inesperada visita de amigos, munidos de garrafas de Fendant, uma variedade de uva muito antiga usada para vinhos brancos, ainda plantada na Alsácia. Os escritores relatam também o encontro de um "oásis", o restaurante Relais du Beaujolais, onde puderam relaxar ao gosto do vinho epônimo. Anotam ainda a "visita" de policiais, com os quais dividiram copos de Sauvanes e rodelas de salame. Afinal, de suspeitos, foram alçados a respeitáveis viajantes, graças à onipresente máquina de escrever.


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DC 4/5/2007

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