segunda-feira, 30 de julho de 2007

Alimento com duas faces *

Um projeto de lei no Rio Grande do Sul, que garantia ao vinho local o status de alimento (com carga tributária inferior à das bebidas), acaba de ser vetado pelo governador de plantão, sob o argumento de que o barateamento contribuiria para um consumo excessivo de vinho entre os jovens. A controvérsia tem milênios. Pesquisador da Universidade da Califórnia – Davis, mergulhado em manuscritos e tabelas de nutrição, com estudos sobre comportamento alimentar, o professor Louis Grivetti escreve: "o vinho contém energia e nutrientes e, assim, por qualquer definição, é um alimento – seguramente, entretanto, um alimento com duas faces". Ao longo da história – e há registros do terceiro milênio a. C. – poetas e filósofos exaltaram o vinho por suas qualidades nutricionais, médicas e sociais. Não faltaram metáforas: "sinfonia química", "poesia engarrafada", "pôr-do-sol capturado". Mas o vinho foi também condenado como "destruidor de lares", the opener of graves, segundo levantamento de Grivetti. Por trás da polêmica, sempre considerações sobre o grau de consumo, da moderação ao descomedimento, essencial quando se fala em álcool. Grivetti ilustra o que chamou de dicotomia inerente ao vinho, com representações artísticas. De um lado, o deus Baco, de Caravaggio (c. 1571-1610), e a alegria antecipada de uma experiência inebriante. De outro, o Silenus do Museu do Capitólio, olhos atormentados e corpo entregue com a perda da razão. ( * Wine: The Food with Two Faces é o título de um artigo de Grivetti publicado em The Origins and Ancient History of Wine, Universidade da Pennsylvania).

http://nutrition.ucdavis.edu/faculty/grivetti.html

http://www.culturageneral.net/pintura/cuadros/baco.htm

DC 29/9/2006

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