segunda-feira, 26 de setembro de 2011

No tempo das diligências

Uma vinícola no sudeste da Austrália, na região agrícola de Padthaway, celebra no rótulo de seus vinhos o velho tempo das diligências e seus personagens, que habitavam um século XIX ainda de muita poeira. Aliás, a própria propriedade, criada em 1992, foi batizada de Henry's Drive Vignerons em homenagem ao concessionário de um desses meios de transporte. Henry John Hill operava uma diligência mista, de transporte de passageiros e também de correspondências, que tinha justamente essa propriedade agrícola como um de seus pontos de parada. Rotas eram chamadas de "drives", daí o complemento do nome da vinícola. A Henry's Drive Vignerons é tocada hoje pela simpática neozelandeza Kim Longbottom e pelas enólogas Renae Hirsch e Kim Jackson. O rótulo de seus vinhos põe na prateleira personagens como o dono do serviço de diligência (Henry's Drive Shiraz), o pastor que sempre aparecia por Padthaway para apaziguar seu rebanho (Parson's Flat Shiraz Cabernet) e até mesmo John Montford, uma bandido que, em 1863, usando no rosto um lenço marrom, assaltou a diligência levando um malote de cheques. O vinho foi batizado de The Trial of John Montford. O assaltante que assustou a população local foi condenado.

http://www.henrysdrive.com/

Diário do Comércio de 23/09/2011

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Do sorgo ao Bordeaux

Para a histórica viagem que fez à China, em fevereiro de 1972, Richard Nixon foi instruído por seus assessores sobre cada detalhe da "exótica" mesa oriental. Por segurança alimentar, depois dos tradicionais brindes com o primeiro-ministro comunista Zhou Enlai, Nixon deveria apenas "bicar" de leve a taça com o vinho, naturalmente feito de sorgo. A imagem-símbolo da visita, entretanto, foi a do presidente americano manejando com certa desenvoltura seus "pauzinhos" no banquete oferecido no Grande Hall do Povo, não distante da Praça de Tiananmen. Os anfitriões de Beijing gostaram. E os chineses de Nova York comemoraram o início dos bons negócios e de uma nova percepção da comida chinesa nos Estados Unidos, escreve Andrew Coe em Chop Suey (Oxford University Press/2009). É claro que o vinho de sorgo não pode ser comparado aos vinhos franceses estocados no Air Force One. No avião, à disposição de Nixon, no caso de uma emergência, garrafas de Ballantine's de trinta anos, Château Margaux 1966, Château Lafite Rotschild 1966, Château Haut Brion 1955 e champagne Dom Perignon. Hoje, com a economia chinesa em expansão e o crescimento de uma classe de endinheirados, não seria difícil encontrar os melhores vinhos Bordeaux e Borgonha numa mesa chinesa. A entrada dos chineses nos mercados de vinhos finos – desbancaram no ano passado os ingleses e alemães no ranking dos compradores de Bordeaux – tem pressionado os preços. Em maio deste ano, um chinês pagou 135 mil libras por uma única garrafa de Château Latour, em leilão na Christie's de Hong Kong. Uma reportagem no jornal The Guardian mostra que os chineses não estão somente comprando boas garrafas, mas também andam adquirindo vinhedos na França. A Cofco, um conglomerado estatal, proprietária das bebidas Great Wall, comprou 20 hectares do Château de Viaud, em Lalande de Pomerol.

Diário do Comércio de 16/09/2011

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Chilenos de raiz

Enquanto a terrível Phylloxera destruiu vinhedos em toda Europa nos anos 1860, as parreiras do Chile mantiveram-se saudáveis e produtivas. O ataque às raízes da vitis vinifera começou na França, avançou pela Europa e "escapou" também para a África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Esses países deram a volta por cima plantando suas mudas em raízes americanas. Estas raízes são resistentes ao minúsculo inseto nativo da América e a técnica não cria híbridos nem interferem na qualidade original das uvas. Um dos livros mais interessantes e recomendados sobre os solavancos da viticultura nesses anos da Phylloxera é The Botanist and the Vintner – How Wine was Safe for the World, do jornalista Christy Campbell (Alonquin Books os Chapel Hill/2005). Essa qualidade dos parreirais chilenos – a de conservar raízes intactas pré-Phylloxera de pelo menos 100 anos antes da praga – é bandeira evidente nos rótulos e material publicitário da vinícola Root 1, que colhe suas frutas nos vales do Colchágua e Casablanca. A Root 1 também aposta em médotos de produção sustentável e pratica série de replantios na região. O enólogo Felipe Tosso faz um Cabernet Sauvignon concentrado que é a marca dos vinhos do Colchágua. Do mesmo vale sai o seu Carmenère, "a uva perdida de Bordeaux" redescoberta no Chile em 1994. A Pinot Noir nasce em Casablanca, beneficiando-se do intenso sol e das tardes frias da região de Tapihue.

www.root1wine.com

DC de 2/09/2011

Dionísio em Naxos

Um ditado propagado a partir da Grécia diz que quando alguém bebe vinho, primeiramente canta como um pássaro. Quando bebe mais um pouco, torna-se forte como um leão e está pronto para lutar. E quando bebe mais ainda, exageradamente, age exatamente como um asno. A moral do dito não combina muito bem com Dionísio, mestre dos excessos, mas é ao deus do vinho que se recorre para explicar o ditado, que tem versões semelhantes, com estes ou outros animais, em vários países da Europa. Tudo começa com Dionísio ainda adolescente em sua viagem a ilha de Naxos (por sinal, a preferida do romântico Byron), relata a escritora Patricia Storace em Dinner with Persephone (Random House/1997). No meio do caminho, ao parar para descansar, topa com uma muda que lhe atrai pelas pequenas e belas folhas. Resolve levá-la para plantar em Naxos. Mas o sol está forte e, para proteger a muda, resolve colocá-la dentro do osso de uma ave encontrado na estrada. A planta vai crescendo, o sol não dá trégua, e Dionisio coloca a muda e o osso da ave no buraco do osso de leão. Depois, com as gavinhas já à mostra, o conjunto é acomodado dentro do osso de um asno. Ao chegar a Naxos, não consegue separar as raízes da planta dos três ossos e temendo destruir a planta, que "crescia tão rápido como corre um rio", resolve plantá-la com todas as suas proteções na terra preta da ilha. A muda, uma videira, dá exuberantes frutos em Naxos e dessas uvas Dionísio faz o primeiro vinho.

Diário do Comércio de 9/09/2011

domingo, 31 de julho de 2011

O valor do âmbar luminoso

Não acredite numa lista das "100 coisas a provar antes de morrer" se nas principais posições não estiver uma harmonização de ouro: um cálice de Sauternes e uma fatia de foie gras – combinação clássica no Périgord de Montaigne. Tem gente que até perde a cabeça quando se trata desse branco doce de Bordeaux, "raio de sol engarrafado", efetivamente superior quando saído das adegas do Château d'Yquem. O vinho dessa casa esteve presente nas mais glamurosas mesas do passado – Talleyrand mandava servi-lo nos banquetes da corte francesa para acompanhar o apreciado peixe rodovalho. E até hoje é ponto alto dos brindes diplomáticos e das boas mesas. George Washington, por recomendação de Thomas Jefferson, seu então embaixador na corte de Versalhes, mantinha garrafas de Yquem na adega. Napoleão, no auge da carreira, recebeu vários carregamentos da safra 1802. O sommelier e colecionador Christian Vanneque acaba de arrematar em leilão uma garrafa de Château d'Yquem de 200 anos por cerca de R$190 mil – o maior valor já pago por uma garrafa de branco. O Yquem, tão celebrado na literatura, é o rei dos Sauternes. A casa tem quatro séculos de tradição e desde 1999 integra o grupo LV.M.H. (leia-se Louis Vuitton). Durante dois séculos, entretanto, esteve sob os cuidados da nobre família Lur-Saluces. O conde Alexandre de Lur-Saluces, que esteve à frente da vinícola até 2003, adotou um rigoroso sistema de qualidade na vinícola, que coloca no mercado somente safras excepcionais. O Château d'Yquem – por onde passaram vários czares russos (contam que Stálin quis levar mudinhas para plantar em casa!) e que guarda no livro de visitas as iniciais do rei Afonso XII da Espanha – tem 125 hectares da sua área de 188 ha tomados pelos vinhedos. A propriedade tem à sudoeste o rio Ciron, cuja névoa é indispensável para o desenvolvimento do fungo botrytis. Os vinhos Sauternes são feitos a partir da botritização de uvas Sémillon, Sauvignon Blanc ou Moscatel. Atacadas pela Botrytis cinerea, os bagos apodrecem, perdem água, concentram açúcar e são transformados em vinho de excelência. A colheita manual é mais demorada, leva dois meses, já que o apodrecimento nos cachos ocorre de maneira irregular e muitas vezes é preciso voltar ao mesmo ponto da parreira. Em Yquem são empregadas 160 pessoas ("caçadores de fungo") para a tarefa de escolher as uvas no ponto ideal. Só dessa maneira, obedecendo o tempo da "podridão nobre", é possível garantir um mosto com teor álcool de 20°. Durante a Exposição Universal em Paris, em 1885, quando veio à luz a famosa classificação dos vinhos de Bordeaux, não houve surpresa em relação ao Château d'Yquem. Os vinhos brancos, todos da área de Sauternes – o que inclui as municipalidades de Sauternes, Fargues, Preignac, Bommes e Barsac – foram divididos em premiers crus e deuxièmes crus, com exceção de Yquem, "cuja supremacia foi reconhecida com a única e insuperável posição de premier cru supérieur", como registrou Richard Olney em seu livro de referência Yquem (Flammarion/2008).



DC de 29/07/2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Douro Boys, Young Blood

Vitivinicultores portugueses de uma nova geração estão pela primeira vez juntos no Brasil para uma tarefa que parece ter virado prazerosa rotina: divulgar os vinhos que produzem na região do Douro. O diferencial é que eles vêm para reforçar a imagem de um terroir de paixão – esse que abrange os parreirais ao longo do Douro (muitos organizados em históricos socalcos) e às margens de seus rios tributários entre Barca D'Alva e Régua – e não necessariamente para fazer propaganda competitiva entre suas garrafas. O grupo Douro Boys é constituído por João Ferreira (Quinta do Vallado), José Teles (Quinta de Napolés, Niepoort), Tomás Roquette (Quinta do Crasto), Cristiano van Zeller (Quinta do Vale D. Maria) e Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão). Estão reunidos desde os anos 90 com o objetivo de promover o vinho de qualidade do Douro, esse que ultrapassou as fronteiras do Porto. A trajetória vitoriosa do vinho do Porto tem início quando os ingleses, às turras com a França, o elegeram como substituto à altura do Claret, em 1670. Os Douro Boys estão fazendo uma "revolução tranquila", dizem, querendo indicar que buscam a renovação desses vinhos seculares, respeitando as características da viticultura da região. Um dos tributos é feito às variedades portuguesas, loas às "top five" Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Cão e Tinta Barroca. Reverência que não os exime de investimentos em tecnologia. Os Douro Boys também são claros ao afirmar que não desprezam os estilos de cada uma das casas. A Quinta do Vallado, com vinhedos nos dois lados do rio Corgo, aparece em documentos desde 1716. Séculos depois, adapta-se ao enoturismo, com manutenção de um charmoso country hotel. Em 1818, a propriedade foi vendida para António Bernardo Ferreira e hoje os 70 hectares de vinhedos estão nas mãos da sexta geração de empreendedores da mesma família. A Quinta do Crasto é ainda mais antiga, de 1615, com vinhedos localizados na margem direita do Douro, a meio caminho entre Régua e Pinhão. A propriedade recebeu investimentos para sua modernização que possibilitou o salto do tradicional Porto à vinificação de reconhecidos tintos, em blend de Tinta Roriz e Touriga Franca. Esse espírito de entusiasmo com os vinhos de sua terra é o mesmo que norteou jovens de Rutherglen, na Austrália, reunidos no grupo The Young Bloods, (este sim nome verdadeiro de uma banda de rock). Trabalham para promover seus vinhos e para atrair uma nova geração de apreciadores da bebida. Objetivo perseguido, na França, por jovens herdeiros de châteaux, que se juntaram para outra revolução sob o sugestivo nome de Bordeaux Oxigène.

www.douroboys.com
www.newbordeaux.com/documents/bordeaux_oxygene.html
www.rutherglenvic.com/whatsnew_more.asp?whatsnewID=34

DC de 22/07/2011

domingo, 17 de julho de 2011

A biodinâmica de Coulée de Serrant

O cartão de visitas do francês Nicolas Joly, do vinhedo Coulée de Serrant, em Savennières, no Vale do Loire, diz tudo: debaixo do seu nome está impresso "assistente da natureza, não vinicultor". Joly é hoje um dos nomes mais importantes da viniviticultura biodinâmica, aquela inspirada nas lições do filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), que indicam uma nova forma de plantar, holística, que alinha o trabalho da terra com a força da natureza, da lua, das estrelas... A isso se somam técnicas de manejo sustentáveis. Seu livro Vinho do Céu à Terra (Vinum Brasil), publicado primeiramente em 1999, já foi traduzido em nove línguas, inclusive o português, ecoando suas ideias e experiências tanto nas regiões da Alsacia, Borgonha e Rhône, como em vinícolas da Califórnia (EUA). Savennières-Coulée de Serrant é uma da poucas propriedades que constituem elas mesmas uma appellation. Tem pouco mais de 6 hectares plantados principalmente com a Chenin Blanc, a uva de predileção e vocação do Loire. Os primeiros vinhedos foram ali plantados por monges cistercienses, no século XII. O monastério serve hoje de moradia de Joly. De Coulée saíram garrafas elogiadas pela sucessão de reis, de Luís XI a Luís XIV. Parte da história desse vinhedo é relatada com acuidade e fluidez pelo jornalista Robert Camuto em Corkscrewed - Adventures in the New French Wine Country (University of Nebraska Press/2008). Nesse livro, o autor traça um retrato da nova viticultura francesa, muito além dos grandes châteaux. Depois de um MBA na Universidade de Columbia e de atuar como alto executivo em bancos de Nova York e Londres, Joly resolveu tocar a propriedade que o pai havia adquirido nos anos 1960. Da experiência desastrosa, com o uso de herbicidas e muita química, passou em 1979 à agricultura biodinâmica, com uso de adubagem orgânica, de vacas, e manejo da terra com cavalos e arado manual, no lugar de trator. P.S.: A viticultura biodinâmica pode resultar em excelentes e cobiçados vinhos, como é o caso dos produzidos em Coulée de Serrant. O que não quer dizer que todos os biodinâmicos sejam melhores que os elaborados pelos métodos tradicionais.

http://www.coulee-de-serrant.com/

DC de 15/07/2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A sede dos exilados de Montparnasse

A arte e a literatura devem muito da sua história ao ambiente de efervescência da Paris das primeiras décadas do século XIX, especialmente dos anos 20 aos 40, cujos personagens (de Picasso a James Joyce são mais de 250 nomes) não dispensavam as varandas dos cafés, dos bares, e as mesas dos restaurantes. A ebulição era estimulada pelos achados de Auguste Escoffier (1846-1935), chef, restaurateur e escritor que renovou as técnicas da culinária francesa e também pela retomada das casas vinícolas, no Entre-guerras. Muito já se escreveu sobre esse clima – o livro paradigma é Paris é uma Festa, de Ernest Hemingway, que chegou ao país em 1921. Um episódio, resgatado em Os Exilados de Montparnasse (Record/2009), de Jean-Paul Caracalla, dá nome aos tintos que foram combustíveis da época. Em carta ao poeta Ezra Pound, Hemingway conta uma viagem que fez à Côte D'Azur, com Zelda e Scott Fitzgerald. Ao chegar, em 1924, o americano estava terminando seu clássico O Grande Gatsby. Com um Renault sem capota, percorreram a paisagem deslumbrante da região sem perder uma só safra, entre Montrachet e Chambertin. Na viagem de volta, com muita chuva, paravam nos bares para se abastecerem. De garrafas. Hemingway escreveu que o amigo ficava excitado ao beber no gargalo. Hipocondríaco e como medo do que aquela roupa molhada poderia causar, Fitzgerald pedia conselhos ao "doutor" Hemingway, que receitava bons goles de Mâcon, vinhos produzidos no Mâconnais, na Borgonha. O refúgio boêmio desses artistas não era restrito a bares, o que não significava falta de bebidas. O eixo passara de Montmartre a Montparnasse, com uma sucessão de casas que reuniam tout-Paris, como La Coupole. O ateliê de Gertrude Stein era um dos festejados pontos de encontro, assim como duas livrarias. Uma delas, a Shakespeare & Company, de Sylvia Beach, era a embaixada da literatura inglesa em Paris – Sylvia lançou Ulisses, de Joyce. La Maison des Amis des Livres, de Adrienne Monnier, era uma biblioteca de empréstimo de obras clássicas e livros de poesia de vanguarda. Adrienne gostava da boa mesa e reunia artistas entre livros, jantares, queijos e vinhos. Não há que temer nem os molhos nem os vinhos, dizia, desprezando a tirania da silhueta.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Gentis frutos da terra dos mafiosos

Terras que até poucos anos atrás pertenciam aos mais sanguinários capi da máfia siciliana estão agora ocupadas por cooperativas sociais que produzem pasta orgânica, molho de tomate, azeite de oliva e vinhos das nativas uvas Nero D'Avola e Catarratto – símbolos da luta contra o crime organizado. As cooperativas, cujos vinhos trazem no rótulo Cantina Centopassi, são o braço agrícola do movimento anti-máfia Libera Terra, que em meados dos anos 1990 plantou raízes na cidadezinha de Corleone (a mesma que inspirou Coppola no seu O Poderoso Chefão) e depois se espalhou pela Itália. Depois de muita mobilização, em 1996 a Justiça italiana aprovou a lei que permite a "tomada" das terras dos mafiosos. Entre as propriedades "confiscadas" estão a de Salvatore "Totò" Riina, que agia sem piedade na Palermo dos anos 1980. Ele só foi preso em 1993, um ano após o ousado assassinato dos procuradores anti-máfia Giovanni Falcone e Paolo Borselini. Há também vinhedos da uva Catarratto que pertenciam a outros chefes da Cosa Nostra de San Giuseppe, Salvatore Genovese e Bernardo Brusca. A Centopassi começou a colher em 2006 em cerca de 70 hectares dos 600 ha disponíveis para a agricultura social. Já produz 200 mil garrafas por ano. Não são vinhos de butique, mas sim produtos vendidos a preços populares nos supermercados da região. O branco é um blend das cepas Catarratto, Grillo e Chardonnay, mas há também o 100% Catarratto, conhecido por sua leveza e toque floral. Já o tinto é uma mistura da Nero D'Avola e Syrah. Os mafiosos tinham terra por ostentação, para mostrar poder, não por apego ao terroir, explica Francesco Galiante, jornalista da Libera Terra, ao escritor Robert Camuto, que conta a história do movimento e da Centopassi no livro Palmento (University of Nebraska Press/2010). A Libera Terra comemorou, no início do ano, a indicação ao prêmio anual da importante revista americana Wine Enthusiast, na categoria "Inovador do Ano de 2010". Estar na lista dos cinco melhores empreendedores da vinicultura mundial é uma vitória desses sicilianos – venceu Alain Juppé, prefeito de Bordeaux.


http://www.cantinacentopassi.it/

DC de 25/7/2011

Com a boca no Etna

Respeitado pelos antigos gregos por ser a entrada para o mundo infernal, morada de deuses, o vulcão Etna impera com seu aparentemente eterno e ameaçador fio de fumaça na costa leste da Sicília. De tempos em tempos, mostra sua fúria espetacular, muitas vezes destruidora, derramando seu mar de cinzas e lava na vizinhança. "A impressão mais surpreendente que você leva do Etna é a de que os moradores locais parecem dar pouca importância ao vulcão que pode engolir seu mundo em minutos", escreve Robert Camuto, que promoveu recente jornada à Sicília para escrever Palmento – A Sicilian Wine Odyssey (University of Nebrasca Press/2010). Os ímpetos do vulcão, entretanto, não são menores do que os de obsessivos viticultores que manejam seus vinhedos, principalmente na face norte do Etna, em busca de um terroir embebido em lava e terra vulcânica. "O Etna é a Borgonha do Mediterrâneo", proclamou Marco de Grazia, que produz o rótulo Terre Nere. Graduado em Literatura Comparada pela Universidade da Califórnia em Berkeley, ex-importador de vinhos italianos para os EUA (empresa agora sob o comando do irmão), um dos sócios da bodega argentina Altos Las Hormigas, o americano De Grazia comprou 15 hectares em terraços abandonados no Etna e ali ergueu seu negócio. Faz parte da geração de jovens viticultores que há cerca de dez anos corre atrás do tempo perdido, centrando fogo no cultivo das cepas nativas: Cattaratto, Frappato, Grecanico, Grillo, Inzolia, Nerello Mascalese, Nero D'Avola, Nerello Cappuccio, Perricone e Zibibbo. Foram cerca de 100 anos de abandono da atividade na ilha, contabiliza De Grazia. Do alto de uma tese conspiratória, explica a decadência da viticultura siciliana: a inversão do eixo das políticas a partir da vitória dos piemonteses e a unificação da Itália, em 1861. De Grazia faz seu tinto com a uva Nerello. Acredita que a região ao redor do vulcão tenha nada menos do que 25 diferentes crus – ou seja, terrenos específicos que possibilitam uma "variedade extraordinária" de resultados. Os vinhos Terre Nere de De Grazia exploram essas possibilidades. São produzidas cerca de 100 mil garrafas por ano, com vinhos envelhecidos por 18 meses em barricas francesas. Está no Etna também, desde 2001, o "belga maluco" Frank Cornelissen, ex-montanhista, que faz o vinho Magma, elaborado a partir da Nerello Mascalese e da Nerelo Cappuccio. Cultivados em alta altitude, seus vinhedos escaparam da devastadora Phylloxera do final do século XIX. São apenas 10 mil garrafas, pintadas com caligrafias japonesas pelo próprio Frank. A receita? Esmaga as uvas com os pés, fermenta o mosto em ânforas de argila – isso mesmo! – enterradas na terra de lava. E espera com paciência o tempo dos "ciclos cósmicos". Alguns críticos acham o vinho "selvagem" demais para ser bebido. Mas, exótico, algumas das garrafas alcançaram US$ 200 cada mundo afora.

DC de 1/7/2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Vinhos de Sonoma, com aura do Pacífico.

Os já reconhecidos vinhos das uvas Pinot Noir e Chardonnay produzidos na área costeira de Sonoma – uma das mais belas regiões vinícolas dos Estados Unidos – passam a ser mais divulgados com a recente criação da West Sonoma Coast Vintners. Essa associação de agricultores e vinicultores promete se dedicar a preservar e proteger a história, a paisagem e a cultura dessa faixa litorânea da Califórnia, incluindo os vinhedos de Annapolis, Fort Ross/Seaview, Occidental, Freestone, Green Valley e Sebastopol Hills. "Somos uma comunidade de agricultores, esta é nossa casa, não apenas nosso meio de vida, e somos orgulhosos disso", afirmam os líderes do movimento em seu site, que traz belíssimas fotografias das áreas associadas ao projeto. Um dos primeiros esforços na divulgação dos vinhos da região – e um prato cheio para quem planeja viajar pela Califórnia enogastronômica – é o West of West Wine Festival. O novo festival está programado para 5 a 7 de agosto num centro de artes em Occidental, a cerca de uma hora de São Francisco. Integram a nova associação as seguintes vinícolas: Benovia, Benzinger, Boheme Wines, Chassseur, Cobb, Failla Wines, Flowers Vineyard & Winery, Fort Ross, Freeman, Freestone Vineyards, Hawk Hill Vineyard, Hirsch Vineyard & Winery, Lioco, Littorai Wines, Marimar Estate Vinyards & Winery, Martinelli Winery, Patz & Hall Wine Company, Peay Vineyards, Ramey Wine Cellars, Red Car Wine Co., Small Vines, Whetstone Wine Cellars e Wind Gap. Os vinhedos da família Benzinger, por exemplo, que podem ser visitados num trenzinho puxado por um trator, estão plantados em solo vulcânico, resultado de explosões na Montanha de Sonoma há dois milhões de anos, o que faz hoje a diferença de seus vinhos.


DC de 28/05/2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

Chenin Blanc no Château des Ormeaux

Ao lado do bosque do Château des Ormeaux, em Nazelles, na vizinhança de Amboise, Vale do Loire, seis fileiras da uva Chenin Blanc resistem bravamente. E servem como símbolo da vocação irrepreensível da região para os bons vinhos brancos. A nobreza sempre valorizou esses "jardins franceses" da Touraine, de boa caça e excelentes vinhos. O Château des Ormeaux foi erguido durante o reinado de Carlos X (1824-1830). Depois da II Guerra Mundial, passou 30 anos em completo abandono, até ser totalmente restaurado nos anos 1970. Hoje serve de hospedagem de charme para quem pretende visitar os vinhedos e castelos do Loire. Hospedados no château, eu e a família fomos paparicados pelo proprietário Emmanuel e guiados no passeio ao bosque pelo labrador Vic. Tomadas pelo mato e esquecidas no tempo, as fileiras de Chenin Blanc também foram redescobertas e resgatadas pelos empreendedores. Agora é possível degustar nas românticas instalações do château o vinho do seu próprio quintal. A Chenin Blanc é a cepa predominante dos vinhos de Vouvray, cidade no distrito de Touraine (a Arbois é permitida, mas raramente usada). O crítico Frank Prial lembra que o escritor François Rabelais (1494-1553), que viveu por ali, descrevia a sensação da perfeita acidez dos Vouvray : é "como tafetá". Gerald Asher escreveu na revista Gourmet, embasbacado, que esses vinhos têm rico aroma e sabor de mel, lembrando até "impossíveis frutas tropicais".

http://www.chateaudesormeaux.fr/accueil_eng.php


DC de 20/5/2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Última ceia, com os desejos dos chefs

Para sua derradeira refeição, o chef Fergus Henderson, do St. John de Londres, filósofo da escola "Do Focinho ao Rabo", defensor ferrenho da carne de porco, gostaria mesmo é de um ouriço do mar banhado em vinho moscatel. Na taça, um excelente tinto da Borgonha. E queijo de cabra, entre uma e outra colherada de sorvete cremoso de chocolate. Para arrematar, café forte e Vieille Prune, esse néctar de ameixas. Desejos como esses de Henderson são a base do livro da premiada fotógrafa Melanie Dunea,My Last Supper , editado em 2007. A obra lista depoimentos sobre uma hipotética última ceia de 50 chefs que realizam sonhos gastronômicos de comensais em todo mundo. O segundo livro de Melanie, My Last Supper: The NextCourse, já está no prelo e deve ser lançado em setembro de 2011, navegando no sucesso que essas listas sempre fazem. Paul Kahn, do Blackbird, Avec, de Chicago, se concentraria diante de um suculento leitãozinho assado, com macarrão feito em casa pulverizado com trufas, tudo acompanhado de um Jean-Louis Chave, Cuvée Cathelin, 1990 (tinto do Rhône). Mais uma salada de escarola temperada com limão, queijo, grappa e chocolate suíço. Mario Batali, que comanda restaurantes em Nova York (o Babbo é o de maior destaque), Los Angeles e Las Vegas, faz da sua lista um verdadeiro banquete, com dez pratos de frutos do mar, pasta e vegetais. A começar com anchovas e aliches marinados servidos com uma pequena bruschetta, harmonizados de maneira mais que específica com o vinho Furore da lavra de Marisa Cuomo, de Ischia. Batali destaca também o Scialatielle ai Gamberetti, com a exclusivíssima pasta encontrada somente na cidade de Amalfi. Para essa hora, há de estar reservadas várias garrafas de Fiano di Avellino, branco da Campânia. De sobremesa, Baba ao Rum, Affogato al Caffe, e um "oceano" de limoncello bem gelado.

DC de 13/5/2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Democráticos da Califórnia

Stephen Brook, colunista da Decanter, grande admirador de vinhos franceses, defensor do conceito de terroir, é o autor do quarto volume da coleção de guias de regiões vitivinícolas do mundo, idealizada pelo crítico inglês Hugh Johnson e editada pelo time da revista The World of Fine Wine. Importante destacar, entretanto, que Brook assina um livro sobre vinhos e produtores da Califórnia. O jogo de idéias é interessante: com o conhecimento das regras que fazem da vitivinicultura européia um empreendimento de respeito e tradição, Stephen Brook é capaz de reconhecer e dar valor a um ponto importante da indústria do vinho californiano, justamente a liberdade de ação dos produtores dessa região ensolarada dos Estados Unidos. Em The Finest Wines of California, Brook mostra o que há de mais californiano nos vinhos de Mendocino, Vale do Napa, Sonoma, Sierra Foothills, Santa Cruz Mountains, Monterey, San Luis Obispo e Santa Barbara. O que possibilita a produção de vinhos de classe internacional nessa parte do país, ele explica, é antes de tudo a proximidade do Oceano Pacífico, que modera o clima com sua brisa constante. Ao lado desse ponderador climático, há a própria formação e origem dos vinicultores. Enquanto na Europa eles geralmente herderam terras e ofício, na América a maioria migrou de outras profissões (executivos de finanças, por exemplo), levando investimentos e muita tecnologia ao campo. Menos apegados às tradições, de olho nos resultados e balanços, não têm medo de atender a demandas (lembram-se da euforia em relação ao Pinot Noir após a temporada do filme Sideways?) e nem de cair em tentativas e erros. Se os críticos dizem "muito carvalho", ágeis, quase sem protocolos, passam a produzir vinhos com menos tempo de barrica. E é nesse espaço de experimentação que nascem algumas preciosidades que disputam o mercado mundial (quando há produção para isso, já que a maioria das garrafas é consumida em casa mesmo). Brook destaca os Cabernet do Vale do Napa, os Pinot Noir de Sonoma, os Chardonnay de Santa Barbara e o Syrah de Paso Robles. Sem contar os vinhos únicos da uva de coração, a Zinfandel. No final do livro, após os perfis de produtores, o autor lista os melhores vinhos que encontrou na sua peregrinação pela Califórnia. E faz um comentário sobre as safras da região, de 1990 a 2009.

Diário do Comércio de 6/5/2011

Sede e fome de monge

A gastronomia e o mundo dos vinhos certamente devem uma parte de seu desenvolvimento aos monges e frades desde a Idade Média. Eles ajudaram, principalmente, a preservar antigas receitas e criar novas fórmulas para outras tantas – muitas sopas e preparações do fundamental peixe nasceram entre uma e outra oração nos monastérios. E dedicavam-se de corpo e alma a seus vinhedos. Durante os festejos do casamento de Catarina de Valois e Henrique V da Inglaterra, o arcebispo de Sens, encabeçando uma procissão de padres, levou ao quarto real sopa e vinho, acompanhados com benção papal. Boa imagem da importância desses dois caldos. Muitos dos tratados de cozinha e sobre vinhos desse período têm como autores dignatários da Igreja, vários exemplares escritos por devotos alemães. Eram capazes de relacionar os melhores vinhedos de sua época e de sua terra: Johannisberg, Steinberg, Hochheim... do Reinghau, mas também falavam das parreiras da Francônia, de onde saíam os vinhos Stein e Leisten. Não menos celebrados pelos clérigos eram os néctares da Côte D'Or (Romanée, Chambertin e Clos-Vougeot), do Rhône (Hermitage e Château-neuf-du-Pape), de Gironde (Saint-Emilion e Sainte-Croix-du-Mont, assim como os caros do Haut-Médoc. O celebrado vinhedo de Clos-Vougeot, propriedade primeira dos monges bernardinos, antes de ser declarado propriedade nacional por Napoleão, rendeu boas histórias. Algumas delas foram compiladas pelo estudioso americano George H. Ellwanger em The Pleasures of the Table, em 1902. (Uma edição fac-similar dessa obra foi editada pela Universidade de Cornell, nos EUA) Contam que Dom Gobelot, então responsável pela adega de Clos-Vougeot, foi forçado a se retirar para Dijon, mas levou com ele centenas de garrafas como souvenir. E quando o jovem Napoleão, conquistador da Itália, ao voltar da Batalha de Marengo, requisitou alguns safrados Vougeot para sua mesa, não teve dúvidas em responder: "Se ele quiser algum Vougeot de 40 anos, peça para que venha beber aqui, pois não estão à venda". E um abade desse mesmo monastério foi nomeado cardeal pelo papa Gregório XVI, em gratidão
a um presente – uma cesta de vinhos.

DC de 29/4/2011

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vinhos de aposta à la D'Artagnan

O romancista Alexandre Dumas (1802-1870 ) registrou em suas Memórias Gastronômicas (Jorge Zahar Editor/2005) uma anedota que expõe não só sua pena afiada, mas sua paixão pelas coisas da boa mesa, seus vinhos, e seu tempo. Muito além de Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, legou seu Grande Dicionário de Culinária, consumação de um projeto de vida. "Queridos leitores, rogo a Deus que lhes reguarde o apetite, o estômago – e os poupe de fazer literatura..." Ele mesmo um chef de cuisine, Dumas narra um episódio que dá humor aos requintes da sociedade francesa entre 1830 e 1850, em seu caminho para o centro da cena enogastronômica mundial. Conta o escritor, usando "bravatas à la D'Artagnan" (como assinala o tradutor André Telles): certo dia, o visconde de Vieil-Castel, um dos mais finos gourmets de então, desafia seus pares: um homem sozinho é capaz de jantar 500 francos, incluindo, claro, os bons vinhos. Aos muxoxos de incredulidade dos amigos, ele mesmo diz ser capaz da proeza. Escolheu o Café de Paris, o melhor restaurante da época, e passou a organizar o cardápio. Teria duas horas, das 19h às 21h, para a refeição, vigiada pelos jurados. Começou com 12 dúzias de ostras de Ostende, com meia garrafa do vinho Johannisberg (Riesling do Reinghau, Alemanha). E mais meia para outra rodada de ostras. Depois, uma exótica sopa de ninhos de andorinhas. Seguindo, e fora do cardápio, uma bisteca com maçã. O peixe, um ferra do lago de Genebra, foi um dos manjares do jantar, mais um faisão trufado – aí já estava na segunda garrafa de Bordeaux. E também um guisado de hortulanas (paixão nacional hoje proibida). Para o final, aspargos, petit-pois, abacaxi e morangos, com meia garrafa de Vin de Constance (tradicionalíssimo vinho de sobremesa da África do Sul) e outra meia de Xerez espanhol. Total da conta: 548 francos. Ganhou a aposta e embolsou 6 mil francos. Lição: nunca brinque com os gourmets e restaurateurs de Paris.

DC de 15 de abril de 2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sangue do Carso: DOC transnacional

Vinicultores italianos e eslovenos discutem a criação de uma classificação DOC (Denominazione di Origine Controllata) para o vinho da tradicional região do Carso (Karst). Território que une os dois países em questões de solo (de calcário), e uva (Terrano), muito além das atuais fronteiras nacionais. Será o primeiro caso de DOC transnacional da Europa. O maior problema ainda a vencer é o da legislação, diferente nos dois países. O Carso abrange área da atual Trieste, cidade no extremo nordeste da Itália, e avança a fronteira em direção à Eslovênia. É também cultivada com sucesso na vizinha Istria e regiões costeiras da Croácia, com destaque para os vinhedos que crescem em Terra Rosa. A uva cultivada sem distinção no Carso desses países é a Terrano (parente da Refosco Istriano) e o vinho apropriadamente apelidado de "Sangue de Carso", dada seu vermelho vibrante. "A região do Carso é uma entidade, sendo a Vitoska e Terrano as mais notáveis uvas nativas", explicou o produtor Sandi Skerki, presidente do Consorzio Tutela Vini del Carso, à jornalista italiana Elisabetta Tosi, no site Palate Press. A Terrano é rica em ferro, minerais, antioxidantes e antocianinas, resultando em vinho de baixo teor alcoólico. Desde a Antiguidade foi tratado quase como remédio para males digestivos. Os gregos o celebravam. Plínio, o Velho, registrou que a longeva imperatriz Livia Drusilla, mulher de Augusto e mãe de Tibério, aos 82 anos ainda apreciava o vinho dessa região, que recebe os ventos do mar Adriático. Na Idade Média, o Terrano era vedete na Europa Central, principalmente entre os alemães. Sempre foi um vinho popular em Trieste e agora quer marcar presença nas prateleiras da Europa. Em dezembro passado, várias entidades da província italiana organizaram um evento dedicado aos vinhos da uva Terrano e a outros tintos do Carso. Foram quatro dias de visitas de jornalistas e formadores de opinião a vinícolas e propriedades da região, com direito a degustação de vinhos, queijos, mel e presuntos. "Teranum e i vini del Carso" também levou garrafas de produtores italianos e eslovenos para a praça central de Trieste. Elisabetta Tosi relata que a população apreciou os Terranos com os típicos goulash e a "jota soup" (preparada com repolho e feijões, às vezes servidas no pão)".

DC de 8/4/2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Carta romana

Ao tratar da mesa dos romanos, o chef e historiador da alimentação Patrick Fass dedica várias páginas de seu livro (Around the Roman Table/The University of Chicago Press/1994) ao vinho e suas circunstâncias de produção, comércio e consumo. O estudioso alemão foi buscar nos poetas, escritores e doutores da Roma antiga uma nomenclatura de época e com ela preparou uma "carta de vinhos" , citando desde os medíocres às ânforas indispensáveis num banquete. Inaugura a lista com o Albanum, seco ou doce, das colinas de Alba, melhor quando envelhecido por 15 anos – vinho reverenciado por Athenaeus, Horácio, Plínio, Marcial e Columella. A relação contempla o branco Falernum da Campânia, paparicado pela literatura da época, maduro aos 20 anos. O poeta Marcial adorava o Tarentinum, suave e com pouco álcool, bem diferente dos vinhos produzidos hoje na mesma região, a Puglia. Fass lista o Sorrentinum, com fundo de terra e amargor, que deveria ser consumido bem jovem em charmosas vasilhas de argila. Já o encorpado Massilitanum dividia a opinião dos enólogos de seu tempo. O médico Galeno o tinha na lista de delícias e de receitas para uma vida saudável. Já Marcial, politicamente incorretíssimo, criticava o vinho dizendo ser bom para envenenar mendigos. E nada de gelar a zurrapa com neve, luxo que seria mais caro do que a própria bebida. O Opimianum, Falernum da estupenda safra 121 a.C., servido pelo novo-rico Trimalquião, como escreveu Petrônio em Satíricon, ganhou o nome do cônsul da época. Bem diferente do forte Fundanum, oferecido nas tabernas na mesma época, "caminho curto para a embriaguez". Os antigos romanos apreciavam os vinhos maduros, mas nada de compará-los anacronicamente aos vinhos de guarda de hoje. César era capaz de desembolsar bons sestércios por um litro do velho Opimianum, autorizando a exclamação de Plínio: "Quanto dinheiro guardamos em nossas adegas!"

DC de 1/4/2004

sexta-feira, 25 de março de 2011

Esculturas de terroir no Castello di Ama

Assim como Marco Pallanti trata seus vinhos – obras-primas da uva Sangiovese com todo o DNA da Toscana –, artistas por ele convidados também têm criado esculturas com a alma da sua propriedade, o Castello de Ama, cravado a 500 metros numa das colinas da comuna de Gaiole, em Chianti, província de Siena. A vinícola de Pallanti, no coração da zona histórica do Chianti Classico, foi fundada em 1972, sociedade de famílias romanas amantes da viticultura. Além dos vinhedos, cuidam de oliveiras e seus azeites. Mas como Pallanti e a mulher, Lorenza, também são apaixonados por arte, patrocinam com vivacidade de bons mecenas, desde o ano 2000, um verdadeiro museu de esculturas, com assessoria de Lorenzo Fiaschi e da Galleria Continua de San Gimignano. "Tínhamos a certeza de que o terroir dos nossos vinhos, este mágico canto da terra, teria o poder de falar ao coração dos artistas, estimular suas sensibilidades, e, através de um genius loci (a habilidade original de criação somada à especificidade de um lugar), ampliar os horizontes do conhecimento". Esculturas e instalações podem ser vistas ao lado de vinhedos (Daniel Buren), na capela do castelo (Anish Kapoor), e mesmo como pano de fundo da fileira de barricas (Kendell Geers).


http://www.castellodiama.com/english/index.php


DC de 25/3/2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vinhos têm alma?

Uma borboleta azul sobre brilhantes cristais. A flor de cinco pétalas de um hibisco, dois beija-flores psicodélicos em pleno voo... As fotografias da cientista americana Sondra Barrett, com flagrantes da "alma dos vinhos", ganharam nos EUA status de arte, foram parar em galerias, camisetas, viraram cartões postais e agora estão perpetuadas no livro Wine's Hidden Beauty (Mystic Molecules Media/2009). Essas imagens multicoloridas de moléculas de vinhos já deram margem para que Sondra, PhD em bioquímica pela Medical School da Universidade da Califórnia, fosse incensada como uma espécie de musa New Age das vinícolas da sua região. Não há como negar a onda mística que a leva a pregar para agricultores da agricultura biodinâmica, atentos às vozes da Natureza. Os momentos do vinho que captura seriam também mensagens. Para os céticos, sussurros. Mas é inegável que o mergulho que a pesquisadora-fotógrafa faz em gotículas dos mais variados tipos de vinho, equipada com microscópios de última geração, pode ampliar nossa percepção desse universo, com suas intrincáveis variáveis. O apelo estético nessas obras vivas do acaso ainda se sobrepõe ao que nelas existe de informação científica a ser decifrada. Mas o que há de errado se elas forem apenas motivos para contemplação. O sonho de Sondra é ampliar a biblioteca de imagens, montagem que começou solenemente com um Inglenook Cabernet Sauvignon Reserve Cask 1941 do Vale do Napa. Quer agora ampliar o leque de "modelos" a fotografar: tintos e brancos, da França e da Itália, de vales e colinas, deste vinhedo e daquelas parreiras vizinhas, de cepas clássicas e outras menos conhecidas, autóctones, frutos tanto se safras excepcionais como daquelas nem tanto. Só assim será possível estabelecer padrões para comparações menos aleatórias. Alguns nexos entre formas e principalmente a idade das amostras começam a se descritos. Conforme o vinho vai envelhecendo, as estruturas moleculares passam a ficar cada vez maiores e mais complexas, escreveu Sondra, na revista inglesa The World of Fine Wine. Em geral, do ponto de vista químico, os ácidos aparecem em formatos angulares. Apresentado pois à imagem de um delgado e espinhento cacto podemos é estar diante de taninos de um grand cru Grands Echézeaux (Domaine de La Romanée-Conti) de quatro anos.

www.sondrabarrett.com/sitebuildercontent/sitebuilderfiles/abbreviatedwhb.pdf
www.WinesHiddenBeauty.com


DC de 18/3/2011

terça-feira, 15 de março de 2011

As garrafas do imperador

O vaidoso Napoleão Bonaparte (1769-1821) não tinha a mesa de gourmets entre seus símbolos de poder. Contam que no dia a dia fazia refeições de 15 minutos, sempre apressado, rotina só alterada em banquetes formais ou nos finais de semana com a família. Gostava mesmo é das sopas grossas, vegetais cozidos com pouca água, prato de soldado no front. Exceção talvez para o Frango à Marengo, preparado pelo seu chef Dunand a duras penas. Napoleão estava faminto. Vencera em jejum os austríacos, em uma das batalhas mais brilhantes de sua carreira, a Batalha de Marengo, ao sul de Turim, em 14 de junho de 1800. Dunand teve de rebolar para conseguir ingredientes naquele pedacinho da Itália. Além do frango, conseguiu lagostins, tomates, ovos e alho – e pão dos próprios soldados. O Frango à Marengo virou obsessão e passou a ser servido depois de campanhas vitoriosas. Já em relação aos vinhos, Napoleão dispensava algumas honras. "Sem vinho, sem soldados" é uma das frases a ele atribuída. A suas tropas era garantida uma ração de vinho diária e ele mesmo apreciava um bom tinto encorpado da Borgonha – de preferência um Chambertin – envelhecido de 5 a 6 anos, sempre com um pouco de água, emulando a infância na Córsega. Napoleão mantinha no front um ajudante para cuidar de seus estoques de tinto. Consta que o suprimento de Chambertin foi tão grande na aventura no Egito que trouxeram garrafas de volta, provando a resistência do vinho francês. Depois de enfrentar Kutuzov, antes do fogo em Moscou, chegou a cantar vitória com bom tinto. E lamentou a especulação em torno de vinhos que teriam sido roubados por cossacos e vendidos posteriormente em Paris, como "vinhos que sobreviveram à Moscou incendiada" e aos soldados mortos de frio. Outra reverência com chapéu bicorne era feita ao Champagne. Napoleão ficou amigo de Jean-Rémy Moët, dono da Moët Chandon) e fez várias visitas às adegas em Épernay, no coração da região. "Na vitória, você o merece; na derrota, você precisa dele", cunhou para sempre o imperador dos franceses. Mesmo no exílio em Santa Helena, teve suas taças cheias de Chambertin, Vin de Constance e Porto.

DC de 11/3/2011

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

À mesa, com convicção.

As tramas policiais do siciliano Andrea Camilleri, com seu impagável inspetor Montalbano reinando na cidadezinha de Vigàta, província de Montelusa (a ficção toma emprestado o ambiente de Porto Empedocle e Agrigento), são reconhecidas no mundo inteiro. Mas é na relação do policial com a comida e os vinhos que a Sicília emerge com todas suas verdades. Em casa, o comissário que lê Faulkner e Borges, abre um bom tinto para acompanhar as surpresas que sua empregada Angelina deixa na geladeira: massa fria com manjericão e passuluna, azeitonas pretas desidratadas no sal e depois acrescidas de azeite e orégano, "com perfume de acordar um morto". E anchovas com cebola. Na rua, o inspetor Montalbano é capaz de dar uma pausa radical nas investigações para cuidar, com determinação, de sua fome e sua sede. No livro O Cão de Terracota (Editora Best Seller/2008), uma cena que resume bem o peso (ou a leveza) da alimentação nessa ilha árida e misteriosa, que deu ao mundo o bravo vinho Marsala e tem vinificado muito bons Nero d'Avola. Montalbano está diante da Osteria San Calogero, com muita fome, sem deixar de pensar em um dos seus casos da vez. "O cheiro de tainhas fritas que vinha da osteria venceu o duelo. O comissário comeu um antepasto especial de frutos do mar e depois mandou trazer duas percas tão frescas que pareciam estar ainda nadando lampeiras dentro d'água" Vendo-o ainda pensativo, o dono da osteria foi direto ao ponto: "Está comendo sem convicção, inspetor... as idéias convém esquecer diante da graça de que o Senhor está lhe concedendo com estas percas". Eric Asimov, inteligente crítico gastronômico do New York Times, dedicou certa vez uma de suas colunas a Camilleri e seu Montalbano. "Somente na Itália (...) o consumo de comida e vinho é levado com tal reverência", cravou. Montalbano está atento ao ponto das massas e à qualidade dos molhos e é capaz de excomungar tanto aqueles incapazes de preparar uma boa pasta como aqueles seres dispostos a comê-la mesmo assim. Faz verdadeiras odes ao tinnirume, folhas e broto de abobrinha siciliana: "A cada garfada sentia que seu corpo se purificava, tornava-se de uma integridade exemplar (...)". E também aos ensopadinhos de lula e ao queijo caciocavallo. N'O Ladrão de Merendas ( Record/2000), Montalbano não pôde deixar de aceitar o convite para o almoço, feito por uma testemunha, senhora de 70 anos. Ele titubeou, pensando que Signora Clementina vivia de papinhas de semolina e batatas cozidas... Mas acabou de boca bem aberta diante de um dos clássicos sicilianos, a Pasta alla Norma, com beringela frita e salada de ricota – uma homenagem à ópera de Vincenzo Bellini, um siciliano da Catânia.

www.donnafugata.it/showPage.php?template=home&masterPage=en-home.html&id=102#loop

DC de 25/02/2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A vinícola das cavernas

Uma prensa e um tanque de fermentação de 6.100 anos são as principais "peças" da mais antiga instalação vinícola já descoberta, escavada numa caverna perto da vila de Areni, em território da atual Armênia. O arqueólogo molecular Patrick McGovern, da Universidade da Pennsylvania, conhecido "caçador" de relíquias da viticultura, diz que a sofisticação desses achados da Idade do Cobre sugere que a tecnologia de produção de vinho começou provavelmente muito antes desse período. A descoberta foi anunciada no mês passado pelo arqueólogo Gregory Areshian, da Universidade da Califórnia, que liderou os trabalhos ao lado do armênio Boris Gasparyan. Desde 2007, eles estão debruçados no site e seus tesouros – incluindo aí taças, vasilhas de armazenagem, odres, galhos secos, sementes... e o mais antigo sapato mocassin, em couro, de 5.500 anos. As escavações foram finalizadas em setembro de 2010. Areshian acredita que os viticultura pré-histórica de Areni estava vinculada a ritos fúnebres, uma vez que as instalações foram encontradas num cemitério. Em estudo publicado no Journal of Archaeological Science, Areshian explica que esses homens espremiam as uvas com os pés, sumo posteriormente drenado para um tanque de fermentação. O vinho era então armazenado em jarros de argila. As condições da caverna, fria e seca, garantiam ao acaso a boa preservação da bebida. A datação dos resíduos foi feita com a utilização da tecnologia do radiocarbono. As análises mostraram ainda a presença de malvidin, um pigmento vegetal responsável pela cor vermelha do vinho. McGovern diz que a comprovação da utilidade da "fábrica" escavada em Areni também se dá por meio do ácido tartárico, este sim indicador preciso da presença das uvas. Os resíduos detectados de malvidin são computados a frutas locais como a romã. Diversos achados arqueológicos em Israel e outras regiões do Oriente Médio e Mediterrâneo, com datas mais recentes, mostraram a prática da produção de vinho em instalações semelhantes, muitas delas escavadas na rocha.


http://news.nationalgeographic.com/news/2011/01/110111-oldest-wine-press-making-winery-armenia-science-ucla/

DC de 11/2/2011

Goats X Côtes, a batalha

Produtores franceses não acharam nenhuma graça quando Charles Back, um viticultor sul-africano da região do Cabo, colocou no mercado um blend ao estilo do Rhône , não sem uma "orgulhosa" pitada da Pinotage local. O problema nem era o bom vinho com variedades francesas e sim seu nome de batismo. Pois acima de uma vistosa cabra, o rótulo amarelo trazia: Goats do Roam. Foi preciso informar aos desavisados que o jogo de palavras, que lembra Côte du Rhône, foi inspirado nos mais famosos moradores da sua propriedade: cabras suíças que fornecem até hoje o leite de seus trinta exclusivos e premiados queijos – habitantes de Fairview, uma fazenda que existe desde 1693. Consta que um grupo dessas imponentes cabras perambulava pelas terras justamente quando Charles Back teve a idéia de criar, em 1999, esse seu primeiro rótulo com as varietais do Rhône. E o bom-humor prevaleceu. Em 2004 o governo francês bateu o pé, enviou carta reclamando que Goats do Roam causava confusão no mercado e era um grande insulto à apellation Côtes du Rhône. A história é contada por Tanya Scholes em The Art and Design of Contemporary Wine Labels (Santa Monica Press/ 2010). A batalha, entretanto, foi ganha pelas cabras. Ou melhor, por Back e companheiros com máscaras dos animais, depois de um divertido protesto em frente do consulado francês na África do Sul. Levaram três litros do polêmico vinho, uma seleção de queijos e uma sacola de esterco, para "fertilizar" as relações entre as partes. Os franceses nunca mais voltaram ao assunto. Depois de Goats on Roam vieram outros blends com variedades como Syrah (a Shiraz do Novo Mundo), Cinsaut, Carignan e Mourvèdre. E Back passou a comprar vinhedos em "enclaves de excelência", como Paarl e Malmesbury, para além das terras das cabras. Nasceram também filhotes da provocação inicial: Goat-Rotí e Bored Doe, que soa como Bordeaux. Já a marca foi recentemente redesenhada (no alto), com um ícone de uma cabra "mesopotâmica"


http://goatsdoroam.com/


DC de 18/02/2011

Milagres dos vinhos de Touraine

Dispostas entre imponentes pilares e arcos ogivais que sustentavam as adegas da Abadia de Saint Julien, uma construção do século XIII no coração de Tours, catorze vitrinas mostram de maneira didática a rotina ancestral que marca a vida de viticultores e negociantes de vinho dessa região produtora do Vale do Loire. No Musée des Vins de Touraine, a viticultura é tratada como ofício, como gostam os franceses, numa lista na qual estão incluídos os indispensáveis toneleiros, cesteiros, vidreiros e forjadores de uma série variada de pequenas e grandes ferramentas. Esses empregados da terra aprenderam com os séculos (e os religiosos) a fazer bons vinhos, principalmente com as cepas Gamay e Chenin. E o que eram então vinhos frescos e leves, hoje são vinhos de terroir, expressando o microclima dessa região produtora da França. Os brancos do Vale do Loire, graças ao trabalho de uma nova geração de vinhateiros, têm surpreendido cada vez mais os enólogos com sua longevidade. A história do vinho de Touraine tem cerca de dezoito séculos. Os marcos concretos são um recipiente na forma de uva, descoberto pelos arqueólogos nas vinhas de Cravant, e pedras de um prensa de Cheillé, do século II. Gregório de Tours (538-594) fala em seus escritos de vinhedos plantados por religiosos no século IV e, no seu Livre des Miracles de Saint-Julien, conta como vinho se multiplicou nas adegas de seu mosteiro, nos moldes do milagre da bíblica festa de casamento em Canaã. os moradores de Tours gostam do relato. Ao lado de uma exposição que é ao mesmo tempo mitológica, histórica e técnica (coleção de ferramentas antigas, arados, barricas, cestos, taças e pichets), uma mostra fotográfica do vinho ligado ao consumo, aos ritos familiares e às celebrações sociais e religiosas. Imponentes também a coleção de paramentos e insígnias de oito confrarias ( Loches, Ingrandes, Saint-Georges-Sur-Cher, Onzain,Chinon, Amboise e Montlouis), sendo a mais antiga a Confrérie des Chevaliers de la Chantepleure, de Vouvray, de 1937, apenas três anos mais nova que a célebre Chevaliers du Tastevin. Tudo sob a proteção do padroeiro São Vicente, que tem vitrine própria e é representado em várias peças do museu. Para quem visita Tours, como centro de turismo para os castelos do Loire, fica fácil também conhecer o Musée Animé Du Vin e de La Tonnellerie
de Chinon e a La Devenière, em Seuilly, cenário da infância do escritor François Rabelais
(1494-1553) autor do monumental (em todos os sentidos) Gargântua e Pantagruel.
Um museu dedicado a Rabelais foi montado
na propriedade do século XV, que mantém
uma pantagruélica adega com vinhos
da Touraine e região.

DC de 3/02/2011