terça-feira, 15 de março de 2011

As garrafas do imperador

O vaidoso Napoleão Bonaparte (1769-1821) não tinha a mesa de gourmets entre seus símbolos de poder. Contam que no dia a dia fazia refeições de 15 minutos, sempre apressado, rotina só alterada em banquetes formais ou nos finais de semana com a família. Gostava mesmo é das sopas grossas, vegetais cozidos com pouca água, prato de soldado no front. Exceção talvez para o Frango à Marengo, preparado pelo seu chef Dunand a duras penas. Napoleão estava faminto. Vencera em jejum os austríacos, em uma das batalhas mais brilhantes de sua carreira, a Batalha de Marengo, ao sul de Turim, em 14 de junho de 1800. Dunand teve de rebolar para conseguir ingredientes naquele pedacinho da Itália. Além do frango, conseguiu lagostins, tomates, ovos e alho – e pão dos próprios soldados. O Frango à Marengo virou obsessão e passou a ser servido depois de campanhas vitoriosas. Já em relação aos vinhos, Napoleão dispensava algumas honras. "Sem vinho, sem soldados" é uma das frases a ele atribuída. A suas tropas era garantida uma ração de vinho diária e ele mesmo apreciava um bom tinto encorpado da Borgonha – de preferência um Chambertin – envelhecido de 5 a 6 anos, sempre com um pouco de água, emulando a infância na Córsega. Napoleão mantinha no front um ajudante para cuidar de seus estoques de tinto. Consta que o suprimento de Chambertin foi tão grande na aventura no Egito que trouxeram garrafas de volta, provando a resistência do vinho francês. Depois de enfrentar Kutuzov, antes do fogo em Moscou, chegou a cantar vitória com bom tinto. E lamentou a especulação em torno de vinhos que teriam sido roubados por cossacos e vendidos posteriormente em Paris, como "vinhos que sobreviveram à Moscou incendiada" e aos soldados mortos de frio. Outra reverência com chapéu bicorne era feita ao Champagne. Napoleão ficou amigo de Jean-Rémy Moët, dono da Moët Chandon) e fez várias visitas às adegas em Épernay, no coração da região. "Na vitória, você o merece; na derrota, você precisa dele", cunhou para sempre o imperador dos franceses. Mesmo no exílio em Santa Helena, teve suas taças cheias de Chambertin, Vin de Constance e Porto.

DC de 11/3/2011

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