sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Filosofia na roda n° 100

A abordagem mais criativa sobre as relações culturais que dão vida à boa mesa e à arte de beber tem a assinatura do filósofo francês Michel Onfray, várias vezes citado nesta coluna, que hoje chega ao número 100. Seus ensaios compõem um pensamento hedonista original e contemporâneo, teoria que inspira algumas pílulas epicuristas desta seção. Em A Razão Gulosa – Filosofia do Gosto (Rocco,1999), Onfray faz um up grade do paladar, sentido até então menosprezado pelos acadêmicos, sem deixar de reconhecer a "grandeza filosófica" de Brillat-Savarin, expressa no clássico Fisiologia do Gosto (Companhia das Letras,1999), obra pioneira, de 1825. O filósofo defende a "prática do vinho" que pode levar à embriaguez que ilumina, que garante a "libertação do espírito". E critica com rigor as bebedeiras que fazem do ébrio um vassalo e não "um sujeito que deseja". Mais de uma década depois de Onfray, eis que outros filósofos entram em cena com dois livros para mostrar os nexos entre vinho e filosofia. O professor PhD Fritz Allholf, da Western Michigan University, apreciador dos bons vinhos californianos, acaba de reunir ensaios de estudiosos e especialistas em Wine & Philosophy - A Meritage of Vintage Ideas. Já Questions of Taste: The Philosophy of Wine é organizado pelo britânico Barry C. Smith, da Escola de Filosofia (Birkbeck) da Universidade de Londres. Os blogueiros de plantão avaliam que as obras são mais um estímulo para o mergulho no mundo do vinho, mas alertam que os livros não substituem o ritual que envolve a degustação de uma garrafa eleita. Não precisavam nem avisar.

9781405154314&site>1">http://www.blackwellpublishing.com/book.asp?ref>9781405154314&site>1

http://fermentation.typepad.com/fermentation/2007/10/didactic-marxis.html

DC 26/10/2007

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Luz, câmera, Gruissan

O próximo Oenovideo – festival internacional de filmes documentários sobre uvas e vinhos, já na 15ª edição – será realizado nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho de 2008 na mediterrânica Gruissan, no Languedoc/Roussilion, a região de vinhedos mais vasta e antiga do mundo, cara a gregos e romanos. A cidadezinha bem perto de Narbonne tem atrativos próprios, como o seu desenho circular algo medieval, além de bela paisagem litorânea e sol abrasador. Itinerante, o Oenovideo deste ano teve como sede a localidade de Sierre, vila de excelentes crus. "As terras cobertas de vinhas são acolhedoras para o homem", resume Raymond Vouillamoz, um dos jurados do certame. Gruissan ostenta também um curriculum vitivinícola de personalidade: na montanha rochosa chamada Clape, que em tempos pré-históricos foi uma ilha, estão os vinhedos de onde saem tradicionais vinhos doces, os brancos especialíssimos da velha uva Bourboulenc (a Asprokondoura dos gregos) e os tintos de cepas como Grenache, Syrah, Mourvèdre, Cinsault e Carignan. Não é preciso então montar cenário para um festival cujo objetivo é exibir as melhores imagens da lida do homem em vinhedos de todo mundo: de closes no agricultor examinando folhas misturadas a gavinhas de seus parreirais a foco na textura dos cachos prontos para serem colhidos. Sobram lentes para as panorâmicas tomadas de fileiras e mais fileiras de planejados vinhedos. A "estética vinícola" poderá ser degustada ainda na exposição "Terroirs d’Images Photo Exhibit 2008" (as fotografias de 2007 podem ser vistas no site), que desta vez terá como tema animais e flores que dão vida aos vinhedos.

http://www.oenovideo.oeno.tm.fr/index.en.html

http://www.gruissan-mediterranee.com/accueil_fr.html

DC 19/10/2007

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A lida na Nova Zelândia

Os vitivinicultores neozelandeses estão orgulhosos com a sua Pinot Noir, que tem lhes garantido vinhos apreciados em todo mundo. É a segunda varietal mais exportada entre junho de 2006 e junho de 2007 – cerca de 6 milhões de litros. A comemoração atinge também produtores de Pinot Gris, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay. O crescimento de 36% no total de vinhos exportados no mesmo período elevou a receita em US$ 700 milhões. Estão colhendo os resultados de duas décadas de desenvolvimento sustentado, como mostra o mais recente documento do New Zealand Wine. O programa Sustainable Winegrowing New Zealand já existe há cerca de 10 anos e hoje serve como arma de marketing, num mundo cada vez mais preocupado com questões ambientais. Cerca de 60% dos vinhedos e 70% dos vinhos já são manejados e processados dentro de conceitos ecológicos. Saborosos detalhes sobre a realidade da vitivinicultura da Nova Zelândia podem ser encontrados em First Big Crush: The Down and Dirty on Making Great Wine... Down Under (Scribner, 2007), livro do jornalista Eric Arnold (The Wine Spectator), que acaba de ser lançado. O site Fermantation, do sempre bem informado Tom Wark, resenhou o novo livro como uma crônica, no melhor estilo "On The Road". Arnold relata as durezas e alegrias de um ano vivido na lida da Allan Scott Wines, propriedade no centro da região vinícola de Blenheim, Marlborough. E coloca a produção de vinhos no seu devido lugar, distante de holofotes e da costumeira glamourização.

http://www.nzwine.com/wineries/

http://www.allanscott.com/

DC 11/10/2007

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Herdades de Évora

É notável que uma fundação cultural alcance seus objetivos de educação e promoção social a partir de bons vinhos e azeites. Essa a receita da Fundação Eugénio de Almeida, com sede em Évora, Portugal, desde a sua criação, em 1963. O agrônomo Vasco Maria Eugénio de Almeida, conde de Vilalva, dono de grande fortuna, instituiu a Fundação em bases humanistas, preocupado com a gente de sua terra. Para investir em educação, no mecenato às artes, na dedicada restauração do patrimônio histórico e arquitetônico, tinha como trunfo um negócio agropecuário rentável, baseado antes de tudo na tradição vitivinícola local. As videiras, de castas tipicamente alentejanas (Tinta Caiada, Aragonês e Trincadeira, para os tintos; Roupeiro, Antão Vaz e Arinto, para os brancos), são cultivadas hoje em 300 hectares, nas herdades de Pinheiros, Casito, Álamo da Horta e Quinta de Valbom. As uvas são processadas na Adega da Cartuxa, que funciona no mesmo local onde, no século XVI, a Companhia de Jesus mantinha uma casa de repouso. Perto dali está o convento da Ordem Cartusiana, projeto abençoado pelo papa Gregório XIII, que sobreviveu à Guerra da Restauração, incêndios e à expulsão de seus moradores pelo marquês de Pombal. Em 1869, o imóvel foi comprado pelo bisavô de Vasco Eugénio de Almeida. Quase cem anos depois, o empreendedor deu nova vida ao convento. Uma reforma completa trouxe de volta até frades cartuxos. É nas caves desse convento que se dá o "acabamento final" a garrafas de vinhos DOC como Pêra-Manca, Cartuxa, Foral de Évora, Cerca Nova e EA. Os vinhedos de Pêra-Manca datam dos séculos XV e XVI. A marca passou da Casa Soares para a Fundação em 1987. E nunca mais deixou de ser sucesso.

http://www.fea-evora.com.pt/

http://www.cartuxa.pt/

DC 5/10/2007