quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Um guerrilheiro zinfanático

Bruce Patch, vinicultor cultuado em Sonoma, ajuda com suas próprias armas a promover os vinhos da uva Zinfandel – cepa-símbolo do esforço americano na viticultura; uva cultivada com vigor na Califórnia a partir de 1852. A Zinfandel é a mesma Primitivo, manejada desde o final do século XVIII na Puglia, sul da Itália. Sofisticadas pesquisas genéticas mostram que a Zinfandel é descendente da cepa Crljenak Kastelanski, nativa da Croácia. Decifrada a gênese, depois de vários períodos de produção de vinhos extremamente rústicos, partiu-se nas últimas décadas para o aperfeiçoamento do cultivo e da vinificação. Bruce criou a Wine Guerrilla, marca de seus vinhos de butique, com Zinfandel colhida em alguns escolhidos vinhedos nos vales Dry Creek, Russian River, Alexander e, claro, Vale do Sonoma. Um Wine Guerrilla de Sonoma acaba de ser lançado, com uvas do renomado vinhedo em Monte Rosso. À luta particular de Bruce somam-se iniciativas mais abrangentes, relacionadas à qualidade da matéria-prima. Em 1995, mudas das melhores e mais antigas videiras de Zinfandel foram plantadas para estudo numa estação experimental da Universidade da Califórnia-Davis (UCD), em Oakville, no Vale do Napa. A UCD, como se sabe, tem sido centro fundamental de formação de profissionais para o desenvolvimento da viticultura nos EUA. O projeto na UC-Davis, batizado de Zinfandel Heritage Vineyards, é patrocinado pela ZAP (Zinfandel Advocates and Producers) e já mostrou os primeiros resultados. Há três anos, os pesquisadores lançaram a primeira seleção certificada (sem vírus) para viveiros comerciais. www.wineguerrilla.com www.zinfandel.org DC de 26/10/2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Uma Córsega na Pompeia

Os vinhos da Córsega têm conseguido expressar, em excepcional blend de culturas, a tradição francesa, a herança italiana (Gênova controlou a ilha até 1769) e certa inquietude e orgulho de insulares na busca e aproveitamento de riquezas da terra. Há quem diga que a viticultura da ilha, pelo menos no que se refere aos vinhedos de Grenache, Carignan e Cinsault, mantém até hoje uma aura magrebiana, já que foram imigrantes argelinos, após a independência do seu país, em 1962, os responsáveis pelo plantio de cepas internacionais e pela afirmação territorial das vinhas. A Córsega de hoje, porém, vem diminuindo a área plantada em nome da qualidade, apostando sobretudo nos varietais das uvas Nielluccio (a Sangiovese toscana), a Sciaccarello e a branca Vermentino (quando se quer dar o tom corso a essas cepas, trocamos o "o" do final pelo "u"). Cerca de 80% dos vinhos ali produzidos são consumidos na própria ilha, como uma das atrações que encantam turistas de todo mundo. O restante da produção já consegue atravessar para o continente com desenvoltura, muito além do Vin de Pays sob a rubrica genérica L'Île de Beauté. Em 2009, um tinto corso recebeu reconhecimento da prestigiosa revista Decanter, premiado como blend de qualidade – e barato. Algumas boas garrafas já chegam ao Brasil, rótulos disponíveis no simpático Empório Sorio, na Pompeia, em São Paulo. Especialistas na enogastronomia da ilha, também importam outras guloseimas, como geleias e biscoitos Canistrelli fabricados com farinha de castanha (que combinam com seus vinhos doces tanto quanto os cantuccini são indispensáveis com o vin santo toscano. Mas essa é outra história). As três principais regiões vitivinícolas da ilha são Patrimonio, ao norte, uma das mais vívidas da Córsega, onde a incentivada uva Nielluccio encontrou seu terroir de preferência, na mesma linha de Bastia. O crítico inglês Hugh Johnson fala de tintos que lembram os do Rhône e cita os bem balanceados doces da uva Muscat. A Nielluccio e as outras varietais da ilha crescem bem ainda na extensa costa oriental da ilha, marcada pela denominação AOC Corse. Já na região de Ajaccio, a cidade de Napoleone di Buonaparte, insígne corso que hoje batiza de sorveteria a cafés, a principal uva é a "macia" Sciaccarello, que nasce nas colinas graníticas ao redor da capital. No Emporio Sorio há vinhos que fazem bonito ao representar algumas das regiões demarcadas: Orenga Gaffory Niellucciu (com 10% de Grenache), Domaine Villa Angeli (com o mesmo blend anterior), Terra Nostra Sciaccarellu (100%). www.emporiosorio.com.br DC de 19/10/2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Vinhos na Índia do chá e do lassi

Ao perigo vermelho, representado por uma China de ricaços em leilões dos melhores Bordeaux, somam-se compradores de turbante, de uma elite da Índia que começa a apreciar os vinhos colocados nas rotas de seus negócios globalizados. Um consumo muito longe ainda de fazer mexer qualquer mercado, mas que os observadores de tendências fazem questão de anotar. O consumo de vinho no país do chá e do lassi (saborosa bebida à base de iogurte e frutas) ainda é de pouco mais de uma colher por pessoa/ano. Há números, entretanto, que mostram um crescimento vertiginoso do consumo de bebidas alcoólicas nas últimas décadas, da ordem de 30% ao ano. O whisky, uma herança do período colonial inglês, puxa a fila, isso tudo num país que, constitucionalmente, aboliu o álcool e enfrenta severas limitações religiosas. Em 2008, a Índia bebeu 4,6 milhões de litros de vinho. E terá degustado 14,7 milhões de litros, na projeção feita para fechar 2012. Como as tarifas de importação da bebida são muito altas, fazendo crescer os preços em até 400%, as preciosas garrafas compradas na Europa são para muito poucos. Esse quadro fez também com que a produção local, mesmo com as dificuldades de terreno e clima, fosse intensificada em nome de um vinho mais acessível. Nos anos 1980, vinhedos de uvas europeias (cabernet sauvignon, chardonnay, pinot noir, pinot blanc e ugni blanc) passaram a ser cuidados em terrenos mais altos, nas regiões de Karnataka, Maharashtra e Sahyadni, áreas temperadas que vão do noroeste de Punjab até o sul, no estado de Tamil Nadu. Fundado nessa época, o Château Indage, em Maharashtra, abastece o mercado local com vinhos espumantes.