sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Uma Córsega na Pompeia

Os vinhos da Córsega têm conseguido expressar, em excepcional blend de culturas, a tradição francesa, a herança italiana (Gênova controlou a ilha até 1769) e certa inquietude e orgulho de insulares na busca e aproveitamento de riquezas da terra. Há quem diga que a viticultura da ilha, pelo menos no que se refere aos vinhedos de Grenache, Carignan e Cinsault, mantém até hoje uma aura magrebiana, já que foram imigrantes argelinos, após a independência do seu país, em 1962, os responsáveis pelo plantio de cepas internacionais e pela afirmação territorial das vinhas. A Córsega de hoje, porém, vem diminuindo a área plantada em nome da qualidade, apostando sobretudo nos varietais das uvas Nielluccio (a Sangiovese toscana), a Sciaccarello e a branca Vermentino (quando se quer dar o tom corso a essas cepas, trocamos o "o" do final pelo "u"). Cerca de 80% dos vinhos ali produzidos são consumidos na própria ilha, como uma das atrações que encantam turistas de todo mundo. O restante da produção já consegue atravessar para o continente com desenvoltura, muito além do Vin de Pays sob a rubrica genérica L'Île de Beauté. Em 2009, um tinto corso recebeu reconhecimento da prestigiosa revista Decanter, premiado como blend de qualidade – e barato. Algumas boas garrafas já chegam ao Brasil, rótulos disponíveis no simpático Empório Sorio, na Pompeia, em São Paulo. Especialistas na enogastronomia da ilha, também importam outras guloseimas, como geleias e biscoitos Canistrelli fabricados com farinha de castanha (que combinam com seus vinhos doces tanto quanto os cantuccini são indispensáveis com o vin santo toscano. Mas essa é outra história). As três principais regiões vitivinícolas da ilha são Patrimonio, ao norte, uma das mais vívidas da Córsega, onde a incentivada uva Nielluccio encontrou seu terroir de preferência, na mesma linha de Bastia. O crítico inglês Hugh Johnson fala de tintos que lembram os do Rhône e cita os bem balanceados doces da uva Muscat. A Nielluccio e as outras varietais da ilha crescem bem ainda na extensa costa oriental da ilha, marcada pela denominação AOC Corse. Já na região de Ajaccio, a cidade de Napoleone di Buonaparte, insígne corso que hoje batiza de sorveteria a cafés, a principal uva é a "macia" Sciaccarello, que nasce nas colinas graníticas ao redor da capital. No Emporio Sorio há vinhos que fazem bonito ao representar algumas das regiões demarcadas: Orenga Gaffory Niellucciu (com 10% de Grenache), Domaine Villa Angeli (com o mesmo blend anterior), Terra Nostra Sciaccarellu (100%). www.emporiosorio.com.br DC de 19/10/2012

Nenhum comentário: