quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Milagres dos vinhos de Touraine

Dispostas entre imponentes pilares e arcos ogivais que sustentavam as adegas da Abadia de Saint Julien, uma construção do século XIII no coração de Tours, catorze vitrinas mostram de maneira didática a rotina ancestral que marca a vida de viticultores e negociantes de vinho dessa região produtora do Vale do Loire. No Musée des Vins de Touraine, a viticultura é tratada como ofício, como gostam os franceses, numa lista na qual estão incluídos os indispensáveis toneleiros, cesteiros, vidreiros e forjadores de uma série variada de pequenas e grandes ferramentas. Esses empregados da terra aprenderam com os séculos (e os religiosos) a fazer bons vinhos, principalmente com as cepas Gamay e Chenin. E o que eram então vinhos frescos e leves, hoje são vinhos de terroir, expressando o microclima dessa região produtora da França. Os brancos do Vale do Loire, graças ao trabalho de uma nova geração de vinhateiros, têm surpreendido cada vez mais os enólogos com sua longevidade. A história do vinho de Touraine tem cerca de dezoito séculos. Os marcos concretos são um recipiente na forma de uva, descoberto pelos arqueólogos nas vinhas de Cravant, e pedras de um prensa de Cheillé, do século II. Gregório de Tours (538-594) fala em seus escritos de vinhedos plantados por religiosos no século IV e, no seu Livre des Miracles de Saint-Julien, conta como vinho se multiplicou nas adegas de seu mosteiro, nos moldes do milagre da bíblica festa de casamento em Canaã. os moradores de Tours gostam do relato. Ao lado de uma exposição que é ao mesmo tempo mitológica, histórica e técnica (coleção de ferramentas antigas, arados, barricas, cestos, taças e pichets), uma mostra fotográfica do vinho ligado ao consumo, aos ritos familiares e às celebrações sociais e religiosas. Imponentes também a coleção de paramentos e insígnias de oito confrarias ( Loches, Ingrandes, Saint-Georges-Sur-Cher, Onzain,Chinon, Amboise e Montlouis), sendo a mais antiga a Confrérie des Chevaliers de la Chantepleure, de Vouvray, de 1937, apenas três anos mais nova que a célebre Chevaliers du Tastevin. Tudo sob a proteção do padroeiro São Vicente, que tem vitrine própria e é representado em várias peças do museu. Para quem visita Tours, como centro de turismo para os castelos do Loire, fica fácil também conhecer o Musée Animé Du Vin e de La Tonnellerie
de Chinon e a La Devenière, em Seuilly, cenário da infância do escritor François Rabelais
(1494-1553) autor do monumental (em todos os sentidos) Gargântua e Pantagruel.
Um museu dedicado a Rabelais foi montado
na propriedade do século XV, que mantém
uma pantagruélica adega com vinhos
da Touraine e região.

DC de 3/02/2011

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