quinta-feira, 5 de maio de 2011

Democráticos da Califórnia

Stephen Brook, colunista da Decanter, grande admirador de vinhos franceses, defensor do conceito de terroir, é o autor do quarto volume da coleção de guias de regiões vitivinícolas do mundo, idealizada pelo crítico inglês Hugh Johnson e editada pelo time da revista The World of Fine Wine. Importante destacar, entretanto, que Brook assina um livro sobre vinhos e produtores da Califórnia. O jogo de idéias é interessante: com o conhecimento das regras que fazem da vitivinicultura européia um empreendimento de respeito e tradição, Stephen Brook é capaz de reconhecer e dar valor a um ponto importante da indústria do vinho californiano, justamente a liberdade de ação dos produtores dessa região ensolarada dos Estados Unidos. Em The Finest Wines of California, Brook mostra o que há de mais californiano nos vinhos de Mendocino, Vale do Napa, Sonoma, Sierra Foothills, Santa Cruz Mountains, Monterey, San Luis Obispo e Santa Barbara. O que possibilita a produção de vinhos de classe internacional nessa parte do país, ele explica, é antes de tudo a proximidade do Oceano Pacífico, que modera o clima com sua brisa constante. Ao lado desse ponderador climático, há a própria formação e origem dos vinicultores. Enquanto na Europa eles geralmente herderam terras e ofício, na América a maioria migrou de outras profissões (executivos de finanças, por exemplo), levando investimentos e muita tecnologia ao campo. Menos apegados às tradições, de olho nos resultados e balanços, não têm medo de atender a demandas (lembram-se da euforia em relação ao Pinot Noir após a temporada do filme Sideways?) e nem de cair em tentativas e erros. Se os críticos dizem "muito carvalho", ágeis, quase sem protocolos, passam a produzir vinhos com menos tempo de barrica. E é nesse espaço de experimentação que nascem algumas preciosidades que disputam o mercado mundial (quando há produção para isso, já que a maioria das garrafas é consumida em casa mesmo). Brook destaca os Cabernet do Vale do Napa, os Pinot Noir de Sonoma, os Chardonnay de Santa Barbara e o Syrah de Paso Robles. Sem contar os vinhos únicos da uva de coração, a Zinfandel. No final do livro, após os perfis de produtores, o autor lista os melhores vinhos que encontrou na sua peregrinação pela Califórnia. E faz um comentário sobre as safras da região, de 1990 a 2009.

Diário do Comércio de 6/5/2011

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