sexta-feira, 1 de abril de 2011

Carta romana

Ao tratar da mesa dos romanos, o chef e historiador da alimentação Patrick Fass dedica várias páginas de seu livro (Around the Roman Table/The University of Chicago Press/1994) ao vinho e suas circunstâncias de produção, comércio e consumo. O estudioso alemão foi buscar nos poetas, escritores e doutores da Roma antiga uma nomenclatura de época e com ela preparou uma "carta de vinhos" , citando desde os medíocres às ânforas indispensáveis num banquete. Inaugura a lista com o Albanum, seco ou doce, das colinas de Alba, melhor quando envelhecido por 15 anos – vinho reverenciado por Athenaeus, Horácio, Plínio, Marcial e Columella. A relação contempla o branco Falernum da Campânia, paparicado pela literatura da época, maduro aos 20 anos. O poeta Marcial adorava o Tarentinum, suave e com pouco álcool, bem diferente dos vinhos produzidos hoje na mesma região, a Puglia. Fass lista o Sorrentinum, com fundo de terra e amargor, que deveria ser consumido bem jovem em charmosas vasilhas de argila. Já o encorpado Massilitanum dividia a opinião dos enólogos de seu tempo. O médico Galeno o tinha na lista de delícias e de receitas para uma vida saudável. Já Marcial, politicamente incorretíssimo, criticava o vinho dizendo ser bom para envenenar mendigos. E nada de gelar a zurrapa com neve, luxo que seria mais caro do que a própria bebida. O Opimianum, Falernum da estupenda safra 121 a.C., servido pelo novo-rico Trimalquião, como escreveu Petrônio em Satíricon, ganhou o nome do cônsul da época. Bem diferente do forte Fundanum, oferecido nas tabernas na mesma época, "caminho curto para a embriaguez". Os antigos romanos apreciavam os vinhos maduros, mas nada de compará-los anacronicamente aos vinhos de guarda de hoje. César era capaz de desembolsar bons sestércios por um litro do velho Opimianum, autorizando a exclamação de Plínio: "Quanto dinheiro guardamos em nossas adegas!"

DC de 1/4/2004

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