sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sangue do Carso: DOC transnacional

Vinicultores italianos e eslovenos discutem a criação de uma classificação DOC (Denominazione di Origine Controllata) para o vinho da tradicional região do Carso (Karst). Território que une os dois países em questões de solo (de calcário), e uva (Terrano), muito além das atuais fronteiras nacionais. Será o primeiro caso de DOC transnacional da Europa. O maior problema ainda a vencer é o da legislação, diferente nos dois países. O Carso abrange área da atual Trieste, cidade no extremo nordeste da Itália, e avança a fronteira em direção à Eslovênia. É também cultivada com sucesso na vizinha Istria e regiões costeiras da Croácia, com destaque para os vinhedos que crescem em Terra Rosa. A uva cultivada sem distinção no Carso desses países é a Terrano (parente da Refosco Istriano) e o vinho apropriadamente apelidado de "Sangue de Carso", dada seu vermelho vibrante. "A região do Carso é uma entidade, sendo a Vitoska e Terrano as mais notáveis uvas nativas", explicou o produtor Sandi Skerki, presidente do Consorzio Tutela Vini del Carso, à jornalista italiana Elisabetta Tosi, no site Palate Press. A Terrano é rica em ferro, minerais, antioxidantes e antocianinas, resultando em vinho de baixo teor alcoólico. Desde a Antiguidade foi tratado quase como remédio para males digestivos. Os gregos o celebravam. Plínio, o Velho, registrou que a longeva imperatriz Livia Drusilla, mulher de Augusto e mãe de Tibério, aos 82 anos ainda apreciava o vinho dessa região, que recebe os ventos do mar Adriático. Na Idade Média, o Terrano era vedete na Europa Central, principalmente entre os alemães. Sempre foi um vinho popular em Trieste e agora quer marcar presença nas prateleiras da Europa. Em dezembro passado, várias entidades da província italiana organizaram um evento dedicado aos vinhos da uva Terrano e a outros tintos do Carso. Foram quatro dias de visitas de jornalistas e formadores de opinião a vinícolas e propriedades da região, com direito a degustação de vinhos, queijos, mel e presuntos. "Teranum e i vini del Carso" também levou garrafas de produtores italianos e eslovenos para a praça central de Trieste. Elisabetta Tosi relata que a população apreciou os Terranos com os típicos goulash e a "jota soup" (preparada com repolho e feijões, às vezes servidas no pão)".

DC de 8/4/2011

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