terça-feira, 31 de julho de 2007

Uma cratera para os bárbaros

Gregos e romanos quase nunca tomavam seu vinho puro, como faziam os cítios, nômades iranianos do tempo do grande persa Dário. A moda cítia do vinho sem mistura era considerada comportamento bárbaro, dentro daquele espírito apreendido pelo dramaturgo Aristófanes: o verdadeiro homem seria aquele que se alimenta e bebe em vastas quantidades. Antes de ir para o kylix, elegante taça grega com duas alças, a bebida era misturada à água numa cratera, grande vasilha de cerâmica, ricamente decorada, geralmente posicionada no centro do salão do symposium. O bardo Homero refere-se na sua épica Odisséia (canto IX), a verdadeiros "sommeliers" servindo vinho a convivas de um banquete, a partir de pesadas crateras. As proporções desse mix alimentaram polêmicas e foram parar nos escritos de filósofos, poetas e historiadores. Aristófanes fala de uma forte mistura: uma parte de água para uma de vinho. Uma criteriosa compilação de citações sobre o tema, traduzidas para o inglês, pode ser vista no blog Laudator Temporis Acti, mantido pelo bibliomaníaco de Minnesota, Michael Gilleland. Heródoto, um dos pais da historiografia moderna, reproduz uma informação colhida numa de suas viagens: a de que o rei espartano Cleômenes "perdeu o senso" e morreu miseravelmente por causa do vinho sem água. Gilleland registra um dos epigramas do endiabrado poeta Marcial, que critica gregos e romanos que bebem o vinho no seu estado natural. Seriam bêbados ou glutões. Platão, nas suas Leis, foi condescendente: "Cítios e trácios, homens e mulheres, bebem de vinho natural, assim como vestem seus trajes", glorificando uma "instituição".

http://laudatortemporisacti.blogspot.com/2004/10/wine-and-water.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Krater

DC 20/7/2007

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