segunda-feira, 30 de julho de 2007

Rações de Persépolis

A compreensão de que o Irã islâmico e atômico de Mahmud Ahmadinejad foi um dia a Pérsia de Ciro, Dário e Xerxes sempre enfrenta caminhos tortuosos. Uma aproximação possível se dá no quesito arrogância dos dignatários, exaltada em Os Persas, tragédia de Ésquilo escrita em 480 a.C., pouco tempo depois da derrota destes para os gregos de Temístocles, na Batalha de Salamina. Era uma Pérsia guerreira e expansionista (como se vê no alegórico filme 300, de Zack Snyder). Mas também capaz de garantir rações de vinho e poesia a seus súditos. Algumas plaquetas de argila encontradas em Persépolis – antiga capital cerimonial do império construída por Dário em 500 a.C. na região sudoeste do que é hoje o atual Irã – revelam como a distribuição do vinho era feita entre a população. Cada membro da família real recebia diariamente quase cinco litros, originários das montanhas onde mais tarde se ergueria a poética cidade de Shiraz. Em dia de festa, a ração podia ser bem maior. Em From Persia to Napa: Wine at the Persian Table (Mage Publishers, 2006), livro que associa a sofisticada culinária persa à sua tradição vitivinícola, Najmiieh Batmanglij revela que uma princesa certa vez recebeu um navio com 500 galões. Parte do salário de alguns funcionários públicos, membros da guarda e oficiais era pago com a bebida. Um trabalhador comum era contemplado com até 20 litros mensais. E quando uma bebê nascia, sua mãe recebia quase dez litros, se fosse menino. Para uma menina, a ração caía pela metade. Tudo uma questão de berço: há 7.600 anos, muito antes do esplendor de Xerxes, os homens que viveram na região do atual Irã sabiam o que eram as delícias do vinho.

http://www.iranian.com/Books/2006/August/Wine/index.html

http://taylorandfrancis.metapress.com/content/v10826kr2310w222/

DC 30/3/2007

Nenhum comentário: