segunda-feira, 30 de julho de 2007

Tempo de festa de Babette

Candelabros acesos, começa a festa: Potage de Tortue, consomé de tartaruga, e Jerez . Ao provar o vinho encorpado e seco, o general estala a língua e decifra a preciosidade espanhola: "Amontillado!" É o início da rendição dos demais convidados, gente rude de uma vila perdida na gelada Dinamarca. Todos comprometidos contra os prazeres daquela mesa e o pecado da gula. A cada prato, a cada cena, entretanto, são tomados por uma sedução diferente e mais arrebatadora. O Blinis Demidof, panqueca com creme azedo e caviar, é acompanhado com Champagne Brut Veuve Clicquot, safra 1860. Depois, Cailles em Sarcophage à la Sauce Perigourdine, cordonas recheadas de foie gras e trufas acomodadas em vol-au-vent, merece um Clos Vougeot, 1845. O banquete cinematográfico prossegue com salada verde, queijos (Quental, Fourme d'Ambert, Bleu D'Auvergnes). E o nocaute vem com as sobremesas: Baba ao Rhum, frutas frescas e café, arrematado com Marc Fine Champagne. Poucos filmes celebram tão bem os valores transcendentes da gastronomia e dos vinhos quanto Festa de Babette (1987), de Gabriel Axel, adaptação de um conto de Isak Dinesen. Além de emblema da culinária francesa, o filme mostra os incomparáveis poderes de transformação da cozinha e todos os sentidos dela emanados, escreve Priscilla Parkhurst em Accounting for Taste: The Triumph of French Cuisine. Babette foge de Paris para a Dinamarca em 1871 e é acolhida por duas irmãs muito religiosas, que vivem uma rotina de austeridade. Premiada na loteria, Babette, ex-chef do Café Anglais, oferece o primoroso jantar, que amplia o horizonte da pequena aldeia. "A culinária nos exalta espiritualmente, humanizando-nos e predispondo-nos para um convívio de bondade e afeto recíproco", escreveu o filólogo e gourmand Antônio Houaiss (1915- 1999) sobre o espírito da Festa de Babette.

http://www.press.uchicago.edu/Misc/Chicago/243230.html

DC 29/12/2006

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