quinta-feira, 26 de julho de 2007

Um Gattinara para Eurípides

Vinhos e uma boa mesa. E está montado o cenário ideal para o encontro entre paixão e ciência. Pelo menos no premiado romance Aqueles Cães Malditos de Arquelau (Editora 34), de Isaías Pessotti. Ex-professor titular de Psicologia da USP, especialista em história da loucura, ele mesmo louco por manuscritos e cozinha, o nosso Umberto Eco (modesto, Pessotti só admite a admiração pelo escritor de O Nome da Rosa) faz na sua ficção a defesa intransigente do estar à mesa. De preferência, acompanhado de Barbarescos "dionisíacos", Barberas "honestíssimos" e Gattinaras. O vinho Gattinara, elaborado com as uvas Nebiollo e um pouco de Bonarda, é de um vermelho intenso, perfumado como violeta, saído da região de Vercelli, casa bem com a história de Pessotti, já que teve como entusiasta um cardeal com nome de arroz, Mercurio Arborio. Em Aqueles Cães... , jovens pesquisadores, anos 60, estão debruçados sobre o Commentarium, manuscrito inédito do século XV assinado por um desconhecido Lutércio. O grupo estuda em Milão, mas busca pistas em todo o fértil terreno piemontês, entre vilas, igrejas, conventos e estradinhas. (Ah! E tratorias!). Sensibilidade e razão equilibradas graças aos vinhos locais, os acadêmicos cruzam informações e descobrem: o autor do Commentarium é Luís III de Monferrato, que teve de se esconder sob o pseudônimo Lutércio para fazer um elogio eloqüente ao grego Eurípides, "Cavaleiro da Paixão", e à sua galeria de figuras: Medéia, Orestes, Fedra, Hipolito, Ifigênia e Dionísio.

http://www.piemondo.it/gastronomia/vino.htm

DC 13/1/2006

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