quinta-feira, 26 de julho de 2007

Hafez de Shiraz

Nasrin Haddad trouxe do Irã um livro de receitas com 832 páginas de delícias milenares, tecidas como a mesma obstinação dos artesãos que desenham os tapetes do seu país. A poesia persa clássica (Ferdousi, Khayyam, Rumi, Saadi e Hafez) veio no coração. Vários versos a cadbanou (mestre de cozinha) Nasrin sabe declamar de memória. Afinal, a poesia tempera o dia-a-dia dos iranianos tanto quanto o açafrão empresta cor e sabor ao arroz cultivado nas planícies chuvosas do país. À frente do único restaurante persa do Brasil, o Amigo do Rei, em Belo Horizonte, Nasrin e seu fiel escudeiro, o artista Cláudio Battaglia, sempre que têm chance mostram as peculiaridades da cozinha persa de raiz, "não arabizada". E tratam de combater mitos sobre a cultura iraniana. Ao lado de Omar Khayyam (1048-1132), invariavelmente citado como "o" poeta do vinho, apresentam Hafez (séc. XIV), o mais popular no Irã. Nascido em Shiraz, cidade das rosas e dos rouxinóis, Hafez celebrou a bebida, desafiando a hipocrisia de religiosos e tiranos. Sua poesia, ao mesmo tempo lírica e mística, escrita como gazal (todos os versos pares rimam entre si), enaltece o papel do vinho, e vai além do hic et nunc de Khayyam. "Se o Supremo não abrir a porta da minha taverna, para onde irei, em intenção de quem orarei?" Hafez estaria mais à vontade com beberrões de rosto sincero do que entre beatos de cenho franzido. Shiraz há mais de 7 mil anos conheceu os segredos da fabricação dos vinhos que enlevavam os poetas. Mas isso é memória. A vila de Khollar, onde as mais belas parreiras vicejavam, hoje é uma ruína com a assinatura da Revolução Islâmica. E shiraz, a uva, passou a ser assunto de australianos e sul-africanos.

http://www. thesongsofhafiz.com

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DC 17/3/2006

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