quinta-feira, 26 de julho de 2007

Bolhas, estrelas barrocas

O filósofo francês Michel Onfray, autor de A Razão Gulosa (Rocco, 1999), não gosta de batina e de igrejinhas. Só não economiza brindes quando o personagem é Dom Pérignon (1638-1715), monge que por 47 anos foi o mestre de adega da Abadia de Hautvillers, na região de Champagne. "Rezo alguns terços para os beneditinos que trabalharam para a salvação de nossos corpos, abrindo-me, entre prima e completas, a alcoóis que desbancam o vinho da missa", escreve Onfray com sua verve hedonista. Corram, irmãos, que eu estou bebendo estrelas, teria dito o monge no momento em que sorvia um vinho estranho, com bolhas, feito pelo acaso de uma refermentação ocorrida dentro da garrafa. Hoje as bolhas são "cultivadas", e o vinho de Champagne bem como outros espumantes ao redor do planeta estão asssociados à alegria, ao enlevo, à sedução. Essas bolhas "têm o poder mágico de levar o álcool com mais rapidez para a corrente sangüínea", reforça a crítica Natalie Maclean. Mais do que fidelidade histórica (os ingleses chamam a si a descoberta e desdenham a região "proprietária da marca"), o que interessa ao filósofo são os "vasos comunicantes". Ele associa o champanhe à música barroca, que persegue a harmonia e busca o "equilíbrio entre o cheio e o vazio". "O champanhe gosta do céu, venera o que é leve, etéreo, até fazer do gás um aliado". A bebida exige uma fruição complexa, que envolve todos os sentidos ao mesmo tempo. Onfray pensa logo na dissimulação das máscaras barrocas, teatrais, que num primeiro momento conturbam a identificação, para logo depois mostrar a que vieram.

http://fr.wikipedia.org/wiki/Vin_de_Champagne

http://www.fohbc.com/BandE_Article5.html

http://www.maisons-champagne.com

DC 30/12/2005

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