quinta-feira, 26 de julho de 2007

Um profeta na caverna

Natalie MacLean ilustra um de seus certeiros artigos sobre o "delirante" vocabulário sobre vinhos, com um diálogo que garimpou no romance de Evelyn Waugh, Brideshead Revisited, de 1945. Jovens personagens, em plena escalada social, conversam durante uma degustação. Falam de vinhos "tímidos como uma gazela". E dos "circunspectos" como "um profeta numa caverna". Há os descritos como "um colar de pérolas num colo negro". Um vinho que é um "cisne" ou um "unicórnio". Não é de hoje que essas metáforas provocam calafrios nos "enoanalfabetos" (termo cunhado por Lawrence Osborne, em O connaisseur acidental – Uma viagem irreverente ao mundo do vinho (Editora Intrínseca, 2004). Osborne, uma das vítimas, mostra como a linguagem sexuada e a classista (vinhos "duros", "sedutores", "graciosos", "de boa estirpe", "nobres") foram sendo substituídas pela nomenclatura politicamente correta e idílica, mais parecida a uma receita de "salada de frutas". Uma revista radicalizou para conquistar novos consumidores: incluiu a metáfora pop na agenda de marketing. Foi assim que um Cabernet da Nova Zelândia foi comparado a "uma queima de estoque da inglesa Victoria's Secret", a marca cult de lingeries, picante e sedutora. A pesquisadora Ann Noble, da Universidade da California, em Davis, desde os anos 80 tem construído uma terminologia científica padrão para os degustadores contra o que chama de "imprecisões" dos adjetivos. Criou uma roda de aromas, onde, por exemplo, não há lugar para um vinho "elegante", mas sim para um "frutado" de várias e progressivas inspirações.

http://winearomawheel.com

http://www.nataliemaclean.com

DC 10/3/2006

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