segunda-feira, 30 de julho de 2007

Menino francês

O fotógrafo Henri Cartier-Bresson (1908-2004) pontuou uma de suas últimas entrevistas – ao jornalista David Friend, da Vanity Fair –, com vinho branco de Bordeaux. Taças bem servidas, brindava: "À anarquia!" Era março de 2003 e a revista celebrava a abertura da Fundação Cartier-Bresson, em Paris. Com a defesa do anarquismo, ele trazia para a discussão temas como a liberdade de fotografar e uma ética própria, na qual o instinto triunfa sobre a razão. Antes da fotografia, estudou pintura com o cubista André Lhote e caiu na farra com surrealistas. Quase morreu de febre numa jornada pela África. Foi também assistente do cineasta Jean Renoir. Soldado francês na Segunda Grande Guerra, irritava os nazistas com uma colorida provocação cultural: "Nós não podemos trabalhar sem vinho tinto!", dizia aos alemães. Conseguiu fugir a tempo de documentar a libertação de Paris. Em 1947, ajudou a fundar a Magnum, a primeira agência de fotojornalismo, e passou décadas viajando pelo mundo. Sair para a rua, Leica na mão, era o que mais dava prazer a Cartier-Bresson na aventura para capturar o "momento decisivo", aquele no qual, ele dizia, a harmonia visual e a expressão humana se encontram. Seus flagrantes da Paris dos anos 30/40 são memoráveis ao deixar de lado clichês para "reconstruir intelectualmente a cidade". É disso que se trata a imagem do menino todo pimpão carregando preciosas garrafas de vinho.

http://www.henricartierbresson.org/

http://digitaljournalist.org/issue0412/friend.html

DC 8/12/2006

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