terça-feira, 1 de maio de 2012

Na Hungria, com Neruda e Asturias.

Nunca a comida e os vinhos húngaros foram tão exaltados quanto nas páginas de um livro escrito a duas mãos por Miguel Angel Asturias e Pablo Neruda. Comiendo en Hungria (Lumen/Barcelona/1974) é uma edição em espanhol, ilustrada por artistas húngaros, com toda a vivacidade e cores da páprica, do gulash e dos vinhos tintos e doces da região – obra preciosa para quem aprecia livros de gastronomia. O guatelmateco e o chileno visitaram a Hungria (não só Budapeste, mas várias cidades “das planuras”) no começo dos anos 1970 e encontraram na culinária a alma do país. Na Hungria, “confluência dos pimentões e da páprica”, não se pode ignorar as sopas, os repolhos "em toda a sua arte", os pescados finos do lago Balaton... Mesa que não dispensa os bons vinhos brancos da terra e os doces Tokay, “fogo de âmbar, luz de mel, caminho de topázio”. E há mais “fulgores da Hungria” nas odes dos dois escritores. Um dos vinhos incensados, o Riesling de Badacsony, sai do solo vulcânico perto do Balaton. Neruda defende a degustação de toda escala de valores do Tokay, "da seca transparência à delirante doçura". Na relação do poeta, também "Medoc de Villány, Tokay Furmint, Aszú, Szamorodini transparentes e sorridentes, doces ou airados, chamas de honra que alargam a vida, como o vinho de Somló”. Asturias fez um brinde à centenária e rústica taverna Híd, no coração de Buda, onde o prosista húngaro Gyula Krúdy (1878-1933) tomava seus vinhos e, arregaçando as mangas da camisa, entregava-se ao prazer de um assador de carnes. Nos salões elegantes do café-restaurante Hungaria, construção art nouveau do início do século XX, outro encontro dos dois esacritores com a boa gastronomia: especialidades húngaras, como os cogumelos empanados, frango recheado, medalhões assados em fogo vivo, depois servidos sobre vários tipos de pimentões, tudo recoberto com “pörkölt” (um molho à base de cebolas, tomates, páprica e vinho tinto). Essas gloriosas constelações da cozinha local “pedem rios de vinhos", justifica-se Neruda, “vinhos de meio-dia e de crepúsculo”. DC de 27/04/2012

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