segunda-feira, 21 de maio de 2012

Quenturas do Château Al Gore

As principais variáveis do aumento do teor alcoólico dos vinhos produzidos na Califórnia são temas frequentes do escritor e professor de política econômica internacional Mike Veseth, em seu blog The Wine Economist. Veseth, entretanto, vai muito além da condenação do crítico de vinhos Robert Parker. Ao pontuar com altas notas vinhos mais alcoólicos e mais amadeirados, o americano Parker tem sido demonizado pela mudança de perfil da bebida produzida em todo o mundo nas últimas décadas, da Califórnia a Bordeaux. Sobre o tema, não faltou nem mesmo Parker satirizado em debochada história em quadrinhos publicada na França (abaixo). O fato indiscutível é que uma plaquinha "RP 94", por exemplo, colocada junto a vinhos em lojas e supermercados, pode estimular vendas. E o produtor corre atrás de mercado mudando até mesmo as cepas de seu vinhedo e a agenda de sua propriedade. Mas a difusão massiva de um estilo Parker de beber não é tudo. Devido ao aumento da temperatura em vários pontos da Califórnia, as uvas colhidas têm naturalmente mais açúcar e, por extensão, produzem vinhos com mais álcool. O professor Veseth detalha uma teoria produzida no que batizou com bom humor de "Château Al Gore", lembrando que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos ganhou o Nobel depois de dar publicidade trágica ao aquecimento global. "O aquecimento (e Al Gore) parece um tema muito controverso na mídia, mas as mudanças climáticas e o vinho não são: eu não conheço ninguém no negócio do vinho [nos EUA] que não considere essa mudança seriamente", escreve Veseth. O professor recorre a estudos do geógrafo Gregory A. Jones, da Southern Oregon University, que identificou alterações climáticas na geografia do vinho, principalmente na faixa oeste dos EUA. Isso significa que regiões hoje já de clima quente, como Lodi, na Califórnia, especializada em uva Zinfandel, pode ficar excessivamente sufocante para vinhos de qualidade. Em áreas com Pinot Noir, como Santa Bárbara e o Vale Willamette, em Oregon, os produtores terão de adaptar seu plantio com varietais mais amigas do calor, como Merlot, Malbec, Syrah ou Cabernet. A essas alterações inescapáveis soma-se um problema da saúde dos vinhedos, relatada a Veseth por viticultores locais. Em meados dos anos 1980, para lutar contra uma invasão da temível Phylloxera, agricultores tiveram de enxertar suas plantas em raízes supostamente mais resistentes. Novas raízes associadas a mudanças no trato dos vinhedos afetaram o amadurecimento das uvas e os níveis de açúcar subiram – enfim um fator realmente agrícola compondo o quadro das bombas alcoólicas que vêm da Califórnia. (http://wineeconomist.com/) Diário do Comércio de 18/5/2012

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