terça-feira, 1 de maio de 2012

A Malbec que cruzou os Andes

A uva de coração dos argentinos, a Malbec, tem sua história ligada a uma experiência chilena. Domingo Sarmiento (presidente da Argentina entre 1868 e 1874), no seu exílio político forçado por Justo Urquiza (militar e que também foi presidente do país), acabou conhecendo a Quinta Normal de Santiago, uma fazenda agronômica dedicada a experiências com árvores frutíferas e videiras, onde ensinavam renomados especialistas europeus. Ao retornar do exílio, Sarmiento convenceu as autoridades de Mendoza a repetirem a experiência chilena. Era 1853 quando o agrônomo francês Michel Aimé Pouget cruzou os Andes com mudas e sementes para criar a versão argentina da Quinta Normal. Entre as várias cepas, a maioria francesas, a Malbec, originária da região de Cahors. O relato é do jornalista argentino Gustavo Choren em seu Gran Libro do Malbec Argentino (Planeta/2007). Os vinhedos cuidados por Pouget vingaram no solo de Mendoza, principalmente em Luján de Cuyo, considerada hoje a terra de excelência dos vinhos Malbec. O primeiro vinhedo da variedade foi reconhecido em 1865, em Panqueua, ao norte da capital da província. Esse vinhedo de Panqueua era propriedade da Bodega González Videla, que existe até hoje e é a mais antiga de Mendoza, escreve Choren. Os historiadores argentinos creditam o desenvolvimento da viticultura na região à chegada da estrada de ferro a Mendoza e San Juan, terra natal de Sarmiento. O trecho andino (mais tarde conhecido como "Gran Oeste Argentino" e "Buenos Aires al Pacífico") alcançou Mendoza em 1884. Os trens cumpriam sua função de transporte entre as províncias, mas tinham um papel ainda maior, "como agressivo fator de colonização e assentamento dentro da própria província". A primeira vinícola a se instalar ao sul do rio Mendoza foi a Norton, criada pelo engenheiro inglês Edmund J. P. Norton, que desembarcara em Mendoza com a febre ferroviária. Conta-se que apaixonou-se por uma moça nativa tanto quanto pela região. Cerca de um século depois, as Bogedas Norton foram compradas pelo empresário dos cristais Gernot Langes Swarovski. Em 2006, a Norton entrou para a lista das 20 melhores vinícolas do mundo, segundo a revista Wine Spectator. Hoje a empresa é administrada por Michel, filho de Gernot, que desenvolve um minucioso trabalho de mapeamento de terroir, identificando microparcelas dentro de cada um dos 1.200 hectares plantados. http://www.norton.com.ar/ DC de 30/7/2011

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