terça-feira, 1 de maio de 2012

A mesa de Balzac, com ostras e Vouvray

O escritor Theóphile Gautier conta que Honoré de Balzac comemorava a entrega de manuscritos a seu editor, na Paris da primeira metade do século XIX, bebendo quatro garrafas de Vouvray, o vinho branco parceiro das ostras. Não é à toa. O romancista nasceu em Tours em 1799, ano do golpe de Napoleão, e conhecia muito bem o cenário e os sabores da região de vinhedos do Vale do Loire. O tempo de Balzac é o tempo do protagonismo da Paris da gastronomia e dos restaurantes, que ele descreve em detalhes na sua monumental Comédia Humana. Balzac tratou de questões que não estavam presentes na obra de romancistas anteriores, conta a escritora Anka Muhlstein no seu livro-ensaio Balzac's Omelette (Other Press/2011). Anka conta que Balzac subverteu o lema do famoso gastrônomo Brillat- Savarin ("diga o que comes que eu te direi quem és"), acrescentando o "onde você come e a que horas do dia". Diferentemente de Guy de Maupassant, que descrevia a degustação de ostras apelando para a poesia de seu amalgamento com a língua do consumidor, Balzac estava interessado na maneira como um jovem fazia o pedido do prato e com que intenções. O escritor mesmo vivia entre frugalidade e excessos. Quando estava em plena criação literária, água, bom e forte café e frutas (peras e pêssegos) bastavam. Depois das provas na gráfica, o quadro mudava: era a vez de bons restaurantes com centenas de ostras (e garrafas de branco), costeletas de carneiro, pato, peixe da Normandia... Depois, mandava a conta para seus editores. Com mesas repletas de Madeira, Tokaj, Champagne, vinhos de Bordeaux e da Borgonha, os personagens de Balzac honravam tanto Savarin quanto o político Cambacères, lembrado também por convencer Napoleão a acabar com a proibição de tráfego de ostras do mar a Paris, de trem. DC 13/jan/2012

2 comentários:

Fernando Carvalho disse...

Parabéns pelo blog. Eu gostaria de ter escrito este post porque meu blog se chama Barris de Carvalho, cultura relacionada ao vinho.

josé guilherme rodrigues ferreira disse...

Obrigado, Fernando. Vou dar uma olhada no seu blog. Abrs. zg