terça-feira, 1 de maio de 2012

Nos navios da rica Holanda

Os holandeses são cervejeiros alegres e contumazes. Mas durante o século XVII, a Época de Ouro da Holanda, tinham que se equilibrar como podiam numa sociedade de moral calvinista, mas que não abria mão da riqueza que lhes garantia excepcional qualidade de vida. Um fiel retrato dessa sociedade foi feito pelo historiador Simon Schama em O Desconforto da Riqueza (Companhia das Letras/1992). Destilados (principalmente o gim da cidade portuária de Schiedam) e vinhos franceses e do Reno também tinham seu papel na alegria das cidades, ao lado de pratos que não dispensavam o pão, a manteiga, o queijo e o arenque. O iluminista Diderot, décadas depois, escreveria que os holandeses eram "alambiques vivos". E os caricaturistas de plantão não perdiam a oportunidade de desenhá-los como sapos levados por ondas de gim. "Em 1613 havia 518 cervejarias só em Amsterdã, uma para cada 200 habitantes", relata o historiador. Os vinhos, mais na mesa da elite do que nas tavernas, cumpriam seu papel como importante mercadoria dos navios mercantes que cruzavam os mares. "Os holandeses transportavam vinhos de Bordeaux para a Alemanha e a Suécia; os vinhos do Reno para a Rússia, a Leste, e a Espanha, a Oeste; vinhos de Málaga, na Espanha, e de Marsala, no Sul da Itália, para a Inglaterra; vinhos de Borgonha para o Báltico", escreve Schama, descrevendo o rentável ziguezague da lucrativa Companhia das Índias Ocidentais. Acabar com uma atividade próspera em nome de objetivos morais era impensável. Não foi fácil para o holandês do Século de Ouro "encontrar o caminho através de uma vida transbordante de riquezas sem incorrer na ira de Jeová". DC de 27/jan/2012

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