terça-feira, 1 de maio de 2012

O desembarque de John Woodhouse

Enquanto cardumes cintilantes de grandes atuns cruzavam as águas da costa oeste da Sicília, o mar agitado ao redor das ilhas egadinas era iluminado por raios e trovões de uma grande tempestade. Era 1772. E o mau tempo obrigou o mercador inglês John Woodhouse a desembarcar apressadamente em Marsala, pensando estar pisando em solo de Mazara del Vallo, seu destino. Esse pequeno incidente, com boa vontade, entraria nos anais da navegação local. Acabou, entretanto, aportando nas páginas da história do vinho.Ao percorrer Marsala, já com tempo bom, o comerciante de Liverpool notou que o terreno e o clima daquela cidade, onde cresciam as uvas nativas Grillo, Inzolia e Catarratto, eram muito semelhantes aos de Portugal e Espanha, de onde saíam os celebrados vinhos do Porto e Jerez (o seu Sherry). No mesmo ano, chegou a enviar para seu país 600 galões do vinho de Marsala, que caiu no gosto inglês e posteriormente foi muito popular entre os súditos da rainha Victória. Woodhouse não perdeu tempo e montou uma vinícola própria, usando técnicas de fortificação semelhantes às soleras do Jerez dos espanhóis. O almirante Nelson teria passado certa vez em Marsala com sua esquadra para "alimentar" os marinheiros com o vinho forte e generoso, isso antes da Batalha de Trafalgar, contra Napoleão. Esse vinho virou então vinho de vitoriosos. Thomas Jefferson mantinha Marsala bem secos na sua adega em Monticello. Outros negociantes vieram seguindo os passos de John Woodhouse, entre eles Benjamin Ingham e John Whitaker. Mas nenhum impulso ao Marsala foi mais forte do que o do calabrês Vincenzo Florio, a partir de 1832. A empresa que fundou, hoje integrada a uma holding, ainda faz bons vinhos. Florio era grande empreendedor. Além da vinícola, esteve à frente de uma das maiores indústrias de pesca da Sicília, a ilha que não dispensa entre suas delícias gastronômicas o simples e saboroso atum empanado e frito em bom azeite. DC 17/fev/2012

Nenhum comentário: