terça-feira, 1 de maio de 2012

Lagostins e Verduzzo de Piave

Nem só de pão e vinho vivem as últimas ceias. Na representação da cena bíblica na Igreja de São Jorge, em San Polo di Piave, cidadezinha nas colinas ao norte de Veneza, província de Treviso, os lagostins estão salpicados na comprida mesa comandada por Jesus. Esses crustáceos de vermelho intenso estão ali no afresco de Zanino di Pietro porque a região sempre teve na iguaria um de seus pratos de resistência e abundância. No referencial Food, misto de dicionário e história da gastronomia, o jornalista americano Waverly Root chega a elevar San Polo de Piave (banhada pelas águas geladas do rio Piave que corre para o Adriático) como "capital do lagostim". Na "Última Ceia" pintada por Zanino, em 1466, é indiscutível a importância iconográfica do vinho, servido entre os apóstolos. São cinco de vinho tinto, uma de branco. E mais uma vez o pintor mostra que foi inspirado pelos costumes locais, principalmente em relação ao vinho branco da cena. Piave desde sempre foi uma região vitivinícola. Até hoje os tintos da uva Raboso, ricos e agressivos em taninos, são produtos de distinção regional. Dentro do mesmo registro campanilista, de amores e orgulhos locais (a campanile, o sino da igreja da cidade como símbolo), o vinho branco servido por um dos apóstolos bem poderia ser um Tocai ou Verduzzo, conhecidos de Zanino di Pietro, pintor da escola veneziana. A análise é de John Variano em original ensaio em Tastes and Temptations – Food and Art in Renaissance Italy (University of California Press/2009). A uva Verduzzo é muito cultivada na província de Treviso. Os produtores locais explicam que as origens sardas do vinhedo parece ser diferente do Verduzzo Friulano (região Friuli-Venezia-Giulia), tido como antiquíssimo e nativo do Friuli. O atual vinhedo de Treviso se expandiu sobre a margem esquerda do rio Piave a partir do início do século XX. DC de 13/004/2012

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