terça-feira, 1 de maio de 2012

Vinhos de Roma e o pedágio da corrupção

Os soldados romanos nunca dispensaram uma boa taça de vinho. No final da República, uma legião de peso, com cinco mil soldados, consumiria até mais de meio milhão de galões de vinho por ano. Imagine então a logística necessária para não deixar faltar a bebida às sedentas tropas na Gália e na Espanha, em meados do primeiro século d. C. . Quatro desses bravos batalhões supostamente mantinham a ordem e a autoridade na Gália (Asterix e Obelix contestariam o adjetivo!). Um número igual de legionários estava estacionado na região norte da Espanha. Como a produção de vinho na Gália da época era limitada, grandes navios carregados de ânforas chegavam a esses pontos com vinho transportado diretamente de regiões produtoras da Itália, principalmente do Latium e da Campânia (área do mapa em marrom). "Os grandes lucros do comércio de vinho, tanto para militares como para civis [Roma tinha cerca de um milhão de habitantes nos primeiros séculos da nossa era], atraíam inevitavelmente a corrupção", analisa o pesquisador Stuart J. Fleming, em seu livro Vinum – The Story of Roman Wine (Art Flair/2001). Fleming conta que o Senado romano chegou a editar um código (Lex Cornelia de Repetundis) que punia com mais rigor os governadores de província envolvidos em falcatruas desse mercado. A história registrou que o grande advogado Marcus Tullius Cicero foi convocado para defender Marcus Fonteius, que foi o pretor da Gália entre 75-73 a.C.. O ex-governador da província foi denunciado por corrupção, em crimen vinarius. As acusações eram de que cobrava "taxas de trânsito" de cada ânfora "importada" transportada por terras gálicas. Quanto mais distante o desembarque, mais caro o "pedágio". De Narbo (atual Narbonne) a Vulchaclo (moderna Carcassone), o imposto era de 1 denarius. Até Tolosa (a Toulose de hoje), subia para 4 denarii. A cobrança era irregular porque os vinhos da Itália eram tão romanos como a própria Gália. Sabe-se que o talentoso Cícero livrou Fonteius da acusação, não sem antes chamar os gauleses de mentirosos e bêbados. DC de 16/dez/2011

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