segunda-feira, 27 de abril de 2009

AVA com alma AOC

Uma tirada de Charles de Gaulle (1890-1970), defensor que era, nos campos de batalha, da concentração de forças, sempre é lembrada quando o tema são as classificações regionais, tão ao gosto dos franceses. "Como alguém pode governar um país com 246 queijos?" Contado o orgulho e cada pé de serra, o número de queijos seria muitíssimo maior, do tamanho da montanha de produtores. A União Européia entrou em campo em 1992 e instituiu, para funcionar ao lado da tradicional AOC (Appellation d'Origine Contrôlée), um selo algo mais restritivo, o PDO (Protected Designation of Origin). Atende com atraso aos reclamos do general ou cria nova escalada de especificidades? O professor Michael Veseth , da Universidade de Puget Sound (Washington), usou a frase de De Gaulle como epígrafe de um texto sobre a enxurrada de AVAs (American Viticultural Area) que recorta as regiões vinícolas dos Estados Unidos além das fronteiras políticas – regulação só aparentemente inspirada nas AOC francesas. Apellattions que primeiro garantiram sobrevivência aos vignerons, depois qualidade aos vinhos até a promoção das regiões vinícolas da França, a começar de Champagne. "How Many AVAs are Enough?" (Quantas AVAs são suficientes?) é a pergunta-título de um artigo publicado por Veseth no site da American Association of Wine Economists. Já são cerca de 200 áreas nos EUA, a mais recente ganhou os contornos de Snipe's Mountain (Washington). Segundo Veseth, essas designações mais complicam que esclarecem o consumidor sobre a procedência do vinho, acostumados estavam com os rótulos varietais impressos por cada estado. Zinfandel da Califórnia ainda é um orgulhoso rótulo para o vinho produzido com uvas de Sonoma, Mendocino e Lodi. Essas três regiões AVAs específicas têm rótulo próprio somente quando produzem vinhos com 85% de uvas locais. Diante de uma Califórnia retalhada por AVAs ligadas muito mais ao território que ao fazer, resta entretanto uma experiência muito especial em Mendocino, onde produtores têm se esmerado na criação de vinhos AVA com alma AOC. Ou seja, acreditam na delimitação geográfica, mas adotaram critérios rígidos de produção, com cepas escolhidas a dedo. Vale a pena conhecer a sanha dessa organização de vinicultores, o Coro Mendocino, vozes diferentes na Califórnia.

http://www.sipmendocino.com/wineries/coro_mendocino.asp

http://wine-econ.org/2009/02/27/how-many-avas-are-enough.aspx

Diário do Comércio/24/04/2009

Nenhum comentário: