sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Vinhos que Dalí serviu à musa

Dalí "roubou" Gala, a esposa russa do poeta Paul Eluard, em 1929, sob o sol de um verão "surrealista" em Portlligat, pequena vila perto de Cadaqués, na Catalunha. O amor à primeira vista tornou-se um casamento para o resto da vida. Gala morreu em 1982, em Girona. Dali, em Figueres, em 1989. 'Galushka' foi sua grande musa e pelo menos dois livros foram a ela dedicados já no crepúsculo da carreira que não queria se pôr: Les Diners de Gala e Les Vins de Gala revelam a paixão dos dois pela boa mesa. Esgotados há décadas, os livros viraram raridades. Dalí lembra dos encontros com o poeta Lorca e o cineasta Buñuel, todos movidos a Champagne. E compara o espocar das rolhas ao andamento das conversas apaixonadas. Não à toa, os vinhos espumantes de Ay abrem sua literária lista de vinhos. The Wines of Gala (traduzido para a casa Abrams em 1978, um ano após a edição parisienese da respeitada Draeger) tem textos de dois especialistas, Philippe Gérad e Louis Orizet. Traz ainda, a título de introdução, um poema sobre a adega, escrito pelo barão Philippe de Rothschild, do célebre Château Mouton Rothschild. The Wines of Gala tem 296 páginas e mais de 140 ilustrações, incluindo algumas feitas especialmente para a obra. Célebres são as intervenções do artista em pinturas medievais que retratam a vindima. A lista dos 10 vinhos do "divino Dalí", sem nenhuma modéstia, inclui o Champagne de Ay, a bebida da persa Shiraz, o vinho da Creta "do rei Minos", o Lacrima Christi elaborado na vulcânica Campânia italiana, o Châteauneuf-du-Pape da terra dos papas em cisma no seu retiro francês, os grandes tintos de Bordeaux, um destaque para o Romanée-Conti, outro para o vinho botitrizado que sai como ouro do Château d'Yquem, o Sherry que é o Jerez de sua Espanha e os inspiradores vinhos da Califórnia. Já os dez vinhos listados para homenagear Gala valem-se de suas características: Vinhos da Alegria (Beaujolais, Rioja, Côtes-du-Rhône), da Soberania (aqui estão os tintos da Borgonha e também do Chile e da Argentina), do Esteticismo (destaque para os bons alemães), da Madrugada (Côtes de Provance Rosé, Tavel, Rosé de Cabernet D'Anjou), da Sensualidade (Sauternes, Vouvray), da Luz (brancos da Borgonha, de Bordeaux, do Vale do Loire), da Generosidade (Porto, Madeira), da Frivolidade (Saumur, Champagne-Crémant, Sekt), do Disfarce (Sherry, Tokay, Château-Chalon) e vinhos do Impossível (série encerrada com os ancestrais gregos resinados).SOBREVIVENTES -Tem sido uma outra luta manter o último vinhedo comercial da Síria aberto e em produção desde que a guerra civil, a partir de 2011, engolfou todo o país. Garrafas do Domaine de Bargylus são símbolo de resistência em terra devastada e continuam a ser vendidas em restaurantes estrelados em Paris e Londres. No início do mês, houve até uma sessão de degustação na vizinha Beirute, no Líbano. DC de 26/09/2014

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