sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Prozac-co, Prosecco.

Os produtores italianos de Prosecco reclamam da má vontade da crítica especializada em relação a seus vinhos, sinônimo de espumante barato. Mas alguns deles são os primeiros a municiá-la. Em plena campanha para elevar o patamar de sub-regiões produtoras, lançaram um Prosecco em lata e uma campanha publicitária com a atriz Paris Hilton recomendando o seu consumo com canudinho. Os produtores mais sérios reclamaram, mas o governo regional achou a latinha e até a criação de um "Prosecco genérico", abrangendo toda região do Friuli Venezia Giulia, boas ideias para resolver o problema da superprodução, como escreveu Walter Speller, do site de Jancis Robinson. Analistas dizem que um dos sérios problemas do Prosecco, vinificado com a uva de mesmo nome no norte da Itália, principalmente na província de Treviso, é a sua produção em massa. Recente relatório do ISTAT, instituto de pesquisas da Itália, mostra que de janeiro ao final de outubro de 2013, cerca de 1,6 milhões de hectolitros de espumantes italianos foram vendidos no mundo, um aumento de 15% em volume em relação ao mesmo período do ano anterior, ou 18% a mais em valor de negócios, somando 572 milhões de euros. No caso da comercialização do Prosecco (DOC e DOCG), o aumento foi campeão, chegando a 30%. O Prosecco é vendido hoje como água para os chineses e tem um mercado constante nos Estados Unidos. Diante das 315 milhões de garrafas vendidas em 2013, o presidente da região do Vêneto, Luca Zaia, anunciou a um jornal local que teve início a "Revolução do Prosecco" e, em gesto megalomaníaco, tratou de mirar como meta a posição de Champagne. Para os integrantes do Consorzio per La Tutela del Vino Prosecco di Conegliano-Valdobboadene, entretanto, a revolução apregoada por Zaia só se fará com aumento da qualidade dos vinhos, que podem ser reconhecidos por sua doce frescura e um característico e ligeiro amargor final (em vinhos de carregação, adição de açúcar esconde defeitos). O Prosecco de Conegliano-Valdabbiadene conseguiu em 2009 a certificação DOCG, o "g" de "garantita" (garantida), o que abrange a zona de produção entre as belas colinas dessas duas cidades. Conigliano-Valdobbiadenne são palavras-chave para quem precisa escolher um bom Prosecco italiano, sendo a subzona de Cartizze, uma indicação de superioridade. Outra região DOCG é a Colli Asolani. O mercado foi surpreendido recentemente com a ligeira "promoção" de áreas IGT (Indicação Geográfica Típica) para DOC (Denominação de Origem Controlada), envolvendo nada menos do que nove províncias: Belluno, Gorizia, Padova, Pordenone, Treviso, Trieste, Udine, Venezia e Vicenza. Mario Batali, o célebre chef ítalo-americano nascido em Seattle, dono de vários restaurantes estrelados de Nova York, incluindo o Babbo, reconhece muitas qualidades no Prosecco: "Não é nem de longe tão elegante como o champagne, mas é muito mais fácil de beber, já que combina com quase tudo". Batali diz ainda que não há nada melhor que um Prosecco para acompanhar aperitivos. Sem contar que é ingrediente indispensável para o Bellini, o drinque que encantou Hemingway no Harry’s Bar, em Veneza. O escritor americano Jay McInerney lembra de uma teoria sobre o Prosecco, a de que esse vinho é sempre melhor sabor quando apreciado in situ, e que perde seu charme quanto mais se distancia da região Nordeste da Itália. Realmente o Prosecco servido numa mesinha na Piazza di San Marco, em Veneza, é sempre sublime. E está mais para o "Prozac-co", como o bem-humorado crítico Mark Oldman se refere ao espumante e seu poder de levar os ânimos às alturas. ESTRELADOS - Especialistas ingleses do grupo de pesquisa da crítica inglesa Jancis Robinson elaboraram uma lista de vinícolas italianas que produzem Prossecco de qualidade. São elas: Adami, Bisol, Bortolin, Bortoolomiol, Case Bianchi, Col Vetoraz, Conte Collalto, Nino Franco, Andreola Orsola e Sorelle Bronea. Outras vinícolas a serem testadas: Varaschin, Mionetto e Zardetto. BRASILEIROS - O Brasil é o quinto maior mercado de exportação do Prosecco italiano, mas essa posição pode cair tendo em vista o crescimento das parreiras da uva Prosecco plantadas no sul do País: já são cerca de 810 hectares. As vinícolas Salton e Aurora já produzem os seus Prosecco com a mesma qualidade de seus bons espumantes. Diário do Comércio 1/07/2014

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