sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Doce laureado

Quem vai à Grécia de navio partindo do porto italiano de Brindisi, no mar Adriático, vai passar pela “veneziana” Corfu até chegar ao histórico porto de Patras, no norte do Peloponeso. Em Patras vai encontrar uma cidade operária movimentada por turistas, que nas últimas décadas ganhou extensa programação cultural. Boa comida sempre existiu, incluindo o surpreendente vinho de sobremesa da uva Mavrodaphne. Mavrodaphne pode ser traduzida como “louro negro”, batismo associado às bagas escuras da árvore da conhecida folha aromática, o louro que vai para a panela, mas que é ancestralmente usado pelos gregos para coroar seus sucessos. Uma taça desse néctar dionisíaco, que pode chegar a 18% de álcool, é sempre indicada para fechar a refeição, mesmo depois da farra da doçaria de Patras, com folhados de amêndoas e muito mel. Há, entretanto, harmonizações mais atraentes, como as sobremesas com chocolate amargo. O doce e fortificado Mavrodaphne é um dos vinhos mais exportados da Grécia. Vem passando por uma revolução de qualidade e tem potencial para ombrear os melhores vinhos doces do mundo. “Está entre um italiano recioto e uma espécie de Porto concentrado”, avalia o inglês Hugh Johnson. E os bons Mavrodaphne também se espelham na longevidade dos vinhos do Porto. A apelação mais conhecida é a Mavrodaphne de Patras, com vinhos que podem ter no blend até 49% da uva Korinthiaki. Outra designação de origem, Mavrodaphne de Kefaloniá, apresenta vinhos varietais, 100% Mavrodaphne. Geralmente as duas uvas, Mavrodaphne e Korinthiaki, são vinificadas separadamente, até que metade dos açúcares tenham se convertido em álcool. A fermentação é sustada com a fortificação, ou seja, o acréscimo do destilado de vinho. Depois vem o envelhecimemto, seguindo as receitas de cada enólogo. O mais comum é que ganhem sua expressão (sabor com fundo de passas, café e baunilha) após cinco anos em barrica. Durante anos, o mercado internacional foi inundado por vinhos Mavrodaphne de discutível qualidade. Não só a porcentagem da Korintiaki (mais usada para a produção de sucos) era desobedecida e ultrapassada, como os vinhedos se espalhavam por áreas muitas vezes sem distinção. Como escreve Mark Stolz, especialista em vinhos gregos, os viticultores reclamam que o Mavrodaphne é vendido a granel para grandes companhias que engarrafam e o vendem como produto da região. E para economizar nos custos, o envelhecem em tanques de aço ou cimento no lugar de barricas de carvalho, como manda a tradição. Algumas vinícolas como a Karelas, fundada em 1936, já fazem seu Mavrodaphne de Patras desprezando a Korinthiaki. Outra representante do Mavrodaphne de qualidade é a vinícola Cambas (hoje gerida pela renomada Boutari) e a Antonopoulos, que tem um de seus rótulos no Brasil, importado pela Mistral. Já a Achaia Clauss continua no panteão local devido à sua história. Seu fundador, o fileleno alemão Gustav Clauss, é tido como o pioneiro na vinificação desses fortificados, iniciada em meados do século XIX. Os primeiros rótulos da Achaia tinham textos em alemão, como se Gustav estivesse na sua Baviera.COLOSSO DE MARÚSSIA - A temporada de Grécia, pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, do escritor norte-americano Henry Miller (1891-1980) rendeu o livro o Colosso de Marússia e uma verdadeira ode ao Mavrodaphne de Patras: "o vinho que "desliza pela garganta como vidro fundido, incendiando as veias como um líquido pesado e vermelho que expande o coração e a mente". Ao prová-lo, a sensação é de peso e leveza ao mesmo tempo, registrou Miller. NO BRASIL - A Mistral é importa para o Brasil o Mavrodaphne of Patras da vinícola Antonopoulos, fundada por Konstantinos Antonopoulos e agora tocada com a mesma tradição por Yiannis Halikias. Os vinhedos da Antnopoulos estão ao sul de Patras, na base das montanhas da Acaia. Já a importadora Vinci traz o Macrodaphne da casa Cambas, equanto a LPH Brasil importa um rótulo mais popular, o Mavrodaphne od Patras Cellar reserve, da Tsantali. DC de 8/8/2014

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