quinta-feira, 9 de julho de 2009

Os socalcos, por Saramago.

O escritor-viajante José Saramago gosta das pedras velhas de seu Portugal tanto ou mais do que suas extensões verdejantes. Por isso, onde há um museu arqueológico que as reúna, ou palácios e paredes com elas sobreviventes, lá está/esteve ele. Algumas impressões sobre essa sua terra e sua gente estão explícitas no livro Viagens a Portugal (Companhia das Letras, 1998), guia inusitado por caminhos do coração. Ali encontramos loas às montanhas xistosas da região do Douro, com seus inumeráveis socalcos – verdadeiras escadarias de pedra amparando os vinhedos. Saramago faz poesia a partir da modificação ancestral da região, o homem transformando aquelas imensas e assustadoras "solidões mineirais". Desmontou, bateu e tornou a bater, fez como se esfarelasse as pedras entre as palmas grossas das mãos, usou o malho e o alvião, empilhou, fez os muros, quilómetros de muros, e dizer quilómetros será dizer pouco, milhares de quilómetros, se contarmos todos os que por esse país foram levantados para segurar a vinha, a horta, a oliveira. Aqui, entre Vila Real e Peso da Régua, a arte do socalco atinge a suma perfeição (...) Essa paisagem de socalco no Alto Douro, esforço do homem para trabalhar terrenos inóspitos (o escritor Adelino Gouveia compara os socalcos às rugas dos camponeses da região), foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2001. Nas encostas do Douro e de seus afluentes (o Corgo de Vila Real e o Tua) vicejam os "jardins suspensos" com suas castas típicas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinto Cão e Tinta Roriz. Saramago escreve que, no fim do verão, as vinhas dos socalcos "se enfeitam de vermelho e dourado". Hora de colher e preparar o vinho.

http://www.inga.min-agricultura.pt/ajudas/agroamb/vsd/regras.html
http://www.dodouropress.pt/index.asp?idedicao=66&idseccao=688&id=6795&action=noticia

Diário do Comércio de 10/7/2009

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