sexta-feira, 20 de junho de 2014

A Pinot que fez a América

A uva Pinot Noir, com seus cachos pequenos, frutas de casca fina, sensível, e que exigem muitos cuidados na colheita, é mais conhecida pelos vinhos finos e celebrados nos quais se transformam na Borgonha. Mas a Pinot plantada nos Estados Unidos, há pelo menos duas décadas não faz feio diante desses tintos ancestrais. Amanhã, dia 21 de junho, algumas dezenas de vinicultores da variedade participam do já tradicional Pinot Days, em San Francisco, Califórnia, sob o mote "serious wine, serious fun". Dia 25 de abril, o evento passou por Chicago e, em outubro, será realizado no Sul da Califórnia. A festa em 2014 - a maior degustação de vinhos Pinot Noir do mundo, segundo seus organizadores - tem sabor especial porque comemora os 10 anos do lançamento do filme Sideways (Paul Giamatt i/ 2004), que catapultou a Pinot Noir nos Estados Unidos, não sem antes desancar a queridinha Merlot. Na cena mais ferina de Sideways, o protagonista quarentão Miles avisa Jack, seu amigo de viagem, antes de um duplo encontro romântico, que deixaria a mesa na mesma hora se alguma das garotas pedisse Merlot. (I’m not drinking any fucking Merlot). A origem da Pinot ainda não foi cravada e provoca debates acalorados entre historiadores do vinho. Os romanos já a descreveram em 100 d.C. Há consenso apenas no fato de que o fortalecimento da variedade na Borgonha e em toda Europa se deve aos duques de Valois e sua "triunfante propaganda", como diz Roger Dion. A Pinot Noir era uma armas dos Valois, com ducado se estendendo dos Alpes a Flandres, na guerra de poder e influência com os reis franceses. Uma disputa que chegou ao século XVII, como explica o jornalista John Haeger. Não demorou para que a Pinot com "pedigree bourguinhão" avançasse em direção ao norte da França, alcançando Champagne, depois o Vale do Loire, mais à oeste, a Alsácia e a Alemanha, à leste. Passou a ser cultivada também na vizinha Itália. Hoje, a área plantada com Pinot Noir na famosa Côte D'Or, de onde saem alguns dos melhores vinhos do mundo, entre Dijon e Chalon-sur-Saône, soma cerca de 4.450 hectares. É menor, por exemplo, do que a área plantada em Champagne. Na Alemanha, onde a Pinot Noir tem o nome local de Spätburgunder, a cepa é a quarta mais plantada, só perdendo para as emblemáticas Riesling, Müller-Thurgau e Sylvaner. A Pinot Noir saiu da Europa para os Estados Unidos e outros países do Novo Mundo, como África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Chile, na "bagagem" dos imigrantes, a partir do século XIX. Hoje, a maior área de Pinot Noir fora da Borgonha está na Califórnia (de onde sai o grosso da produção americana), com 16.029 hectares. Somente os vinhedos de Sonoma totalizam 4.881 ha, segundo dados do Wine Institute, da Califórnia. Dois dias após o lançamento do filme Sideways, as vendas de vinhos de Pinot Noir dispararam nos supermercados americanos. De 24 de outubro de 2014 a 2 de julho de 2005, o aumento das vendas foi de 18%. Segundo o Wine Institute, a procura pelos vinhos de Pinot já vinha crescendo antes mesmo do filme. De 1990 até 2012, a tonelagem de uvas Pinot destinadas à vinificação cresceu sete vezes. E a safra de 2012 foi uma das melhores dos últimos tempos, principalmente nos vinhedos costeiros de Sonoma. A revista Wine Enthusiast indicou três dos melhores vinhos da região: W.H. Smith Hellenthal Vineyard 2010 (W.H.Smith); Mas Cavalls Doña Margarita Vineyard 2009 (Miramar State) e Gap’s Crown Vineyard 2011 (Guarachi Family). YES, PINOT - Indispensável na biblioteca do entusiasta do vinho é o livro North American Pinot Noir (University of California Press/ 2004), de autoria de John Winthrop Haeger. É considerado a bíblia da cepa, com detalhadas informações da trajetória da Pinot em solo americano. Destaque para a comparação entre os vinhos da Pinot produzidos nos EUA e na Borgonha. Haeger também fez perfis das principais vinícolas que cultivam a variedade. MERLOVE -O documentário Merlove, de Rudy McClain, foi concebido para ser um contraponto, mais que uma resposta, ao filme Sideways. que havia desancado a uva Merlot. O diretor contou detalhes de Merlove em bate-papo com Gary Vaynerchuk, o apresentador da Wine Library TV. Como se sabe, a Merlot ainda é uma das uvas preferidas dos americanos. http://tv.winelibrary.com/2009/11/25/merlove-episode-775/ DC de 20/6/2014

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