sexta-feira, 2 de maio de 2014

Jampal de Cheleiros

Os olhos de André Manz brilham quando fala da Jampal, a uva que cultiva na bucólica vila de Cheleiros, ao norte de Lisboa, bem perto de Mafra. Quando comprou a vinha, nos idos de 2004, insistiam para que ele substituísse a Jampal por outra casta, alegando que a produção da variedade era fraca, o que tornava o vinho dispendioso, mas não menos atraente. Mas ele apostou na Jampal,variedade praticamente abandonada e a caminho da extinção. E é hoje o único em todo o mundo a produzir um vinho varietal com a casta.

O perfumado branco Manz Cheleiros Dona Fátima em pouco tempo de vida já integra a lista dos 50 melhores vinhos de Portugal da renomada crítica inglesa Julia Harding. A experiência de trabalhar com a casta autóctone levou o empresário a produzir vinhos com Castelão e Aragonez, também tradicionais, no Alto Douro (Cimocorgo) e também na vizinha Península de Setubal (Palmela).

André Manz, brasileiro de Caraguatatuba, especialista em fitness, nada conhecia de uvas até mudar-se com a família para Portugal, há 10 anos. Ao se deparar com um vinhedo abarrotado de cachos, não demorou para cercar-se de bons enólogos e desenhar seu sonho vitivinícola. O Projeto Biomanz tem justamente a missão de recuperar terreno para a Jampal, casta que tomava conta das ensolaradas, íngremes e pedregosas encostas de Cheleiros e que, no século XIX, esteve no centro da sua principal atividade econômica.

O primeiro passo foi a recuperação do vinhedo. Seguiu-se a certificação da vinha pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária (INIA), com clones também atestados que garantem o crescimento do cultivo da Jampal. Levantamento de 2010 apontava 106 hectares da variedade no país. O engenheiro Eiras Dias, do INIA, é um entusiasta de projetos que valorizam as castas antigas portuguesas e autor da certificação da Jampal da Manzwine.

Ao projeto vinícola, seguiu-se a integração da Manzwine com a vila e sua população. André transformou as ruínas da velha escola de pedra na sua adega, batizada de “lugar do vinho”. E um antigo lagar, onde uvas eram tradicionalmente pisadas, ganhou um museu com objetos e a história do vinho de Cheleiros. Além do vinho branco Jampal, perfumadíssimo, fresco, com boa acidez, amanteigado, já encontrado no Brasil, essas instalações da Manzwine são atrações de um roteiro turístico pela região, passeio que deve incluir tanto a capela manuelina do século XVI quanto a ponte medieval e, nas vizinhanças, o Palácio Nacional de Mafra.
 DC de 2/05/2014

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