sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Símbolos de resistência

Numancia saiu das páginas da história da Espanha para batizar vinhos de qualidade da região de Toro, em Castilla y Leon. Está nos rótulos das garrafas que saem da vinícola Numanthia, casa que desde 1998 maneja quatro vinhedos da cepa Tinta de Toro (a Tempranillo local), em área de 49 hectares ao longo do rio Duero, o mesmo Douro que corre em Portugal. Numancia é símbolo de coragem. A vilazinha celtíbera resistiu bravamente, isso há mais de 2.000 anos, ao assédio de 50 mil soldados e alguns generais do cônsul romano Cipião. E foi celebrada em tom de tragédia por Cervantes em El Cerco de Numancia (1582). Em vinte anos de cerco monumental, romanos empenhados em sufocá-los de fome e sede construindo muralhas de até 12 metros, os numancinos nunca se renderam. A última batalha foi selada com sacrifício de todos os seus habitantes, cena que o pintor Alejo Vera y Estaca reviveu em El Último Dia de Numancia (1880). Os vinhos de Toro, reconhecidos desde a Idade Média, cantados nos clássicos castelhanos e que "fizeram parte da aventura do Novo Mundo", já brigam em igualdade de condições com vinhos de Ribera Del Duero, Rioja e Priorato. São produzidos na extremidade oeste de Castilla y Leon e desde 1987 contam com o reconhecimento de "Denominación de Origen". A bodega Numanthia fica perto da vila de Valdefinjas, província de Zamora. As ruínas da velha Numancia ficam a 5 quilômetros da cidade de Soria. A associação dos vinhos de Toro com a brava Numancia tem pelo menos uma explicação. Em Toro há vinhedos que resistiram à praga da Phylloxera, que dizimou a cultura na Europa na segunda metade do século XIX. Portanto há mais de 150 anos produzem frutos sem que suas plantas tenham sido socorridas com enxertos. Cerca de 20 hectares dos terrenos da bodega Numanthia têm parreiras de 70 a 100 anos. E há ainda uma área de 4,8 hectares, em Argujillo, com vinhas raras de mais de 120 anos. O primeiro vintage Numanthia, apresentado pela família Erguren ao mercado em 1998, foi mais do que bem recebido pela crítica. Em 2006 a revista Wine Spectator selecionou seus rótulos como imperdíveis tintos espanhóis e apontou o início de um caminho de qualidade que vem sendo perseguido pela vinícola com seus Termes, Numanthia e Termanthia. Isso mesmo depois de a vinícola ter sido adquirida pelo grupo LVMH. DC de 9/11/2012

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