quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A batalha do açúcar

A águia alemã que nos interessa veste um cacho de uvas como armadura e tem, nos últimos anos, sobrevoado outros campos de batalha: os vinhedos e os mercados internacionais. A águia assim vestida é símbolo da VDP, Verband Deutscher Qualitäts – und Prädikatsweingüter, uma das mais antigas associações de vitivinicultores do mundo, criada em 1910. Desde 1982, a águia aparece solenemente em rótulos e hoje até em algumas cápsulas, chancelando vinhos com muitos "predicados". Pelo menos 200 desses produtores associados à VDP são também lideranças do setor e enfrentam corajosamente a lei do vinho alemão, de 1971, calcada principalmente no teor de açúcar da bebida. Eles enxergam certa tirania na inspeção outonal de agentes públicos que medem tão somente a quantidade de açúcar das uvas, que por sua vez determina o peso do mosto e a futura classificação dos vinhos, tudo sob a égide dos graus Oechsle. "Do açúcar para o terroir" é portanto um contramovimento importante, analisa o crítico Stephan Reinhardt no seu recém-lançado The Finest Wines of Germany (Fine Wine Edition/2012). A vinicultura alemã, tão celebrada na Idade Média, custou a recobrar seu vigor depois que vinhos açucarados, baratos e de baixa qualidade inundaram as prateleiras mundo afora nos anos 1970, personalizados nas garrafas azuis de Liebfraumilch e no bombardeio da tradução do rótulo: "O leite da mulher amada". O novo guia da série Fine Wine traz justamente o perfil de 70 produtores (de 24 mil em atividade hoje), todos com uma nova visão de vinho alemão, preocupados com a especificidade das uvas, dos terrenos, e com os processos de vinificação. Os vinhos premium, por exemplo, tem carregado um Erste Lage, um número "1" que abraça um cacho de uvas (comparável a um Grand Cru da Borgonha). Na verdade, a VDP quer ainda mais qualidade do que prevê a própria lei. Isso implica na redução da área dos vinhedos, no aprimoramento das instalações e no manejo sustentável das parreiras. Sob a visão da águia, vinhedos VDP precisam ter 80% de Riesling – a uva típica do país – e também de tintas da família da Pinot. DC de 16/11/2012

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