sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Verão de ceifadores em Colmar

O ataque ao vinhedo experimental em Colmar, na Alsácia, Nordeste da França, foi no início da noite de 15 de agosto. Tudo muito rápido, como descreveu o repórter Ben O'Donnel, do site da revista Wine Spectator. Não demorou nem 20 minutos para que cerca de 70 ativistas do grupo Les Faucheurs Volontaires (Ceifadores Voluntários) arrancassem e destruíssem 70 videiras, plantadas em área do Instituto Nacional Francês de Pesquisa Agrícola (INRA), na medieval cidadezinha de Colmar. O vinhedo era a base de uma pesquisa de sete anos, destinada a encontrar soluções para combater uma doença que ataca as videiras e tira o sono dos viticultores em várias regiões produtoras do mundo. Vermes microscópicos, os nematóides que vivem às custas das vinhas são vetores do vírus court-noué (fanleaf), que reduz o rendimento das parreiras, mata plantas, arruína o solo e pode dar origem a uma verdadeira praga. Com a destruição dos vinhedos de Colmar, perdeu-se parte importante de um projeto que já havia consumido 1,2 milhão de euros. No centro da polêmica a natureza dessas videiras, com suas raízes geneticamente modificadas, dotadas de genes resistentes ao vírus. Os ativistas do Les Faucheurs Volontaires lutam contra todos os alimentos geneticamente modificados (e contra o globalizado Carrefour também!). Segundo os ativistas, ainda faltam testes que mostrem sua inofensividade. Têm medo também que o vírus se torne resistente e/ou que as plantas modificadas acabem se alastrando para a vizinhança. Os cientistas garantem que a pesquisa é absolutamente experimental e faz parte de um projeto com várias outras alternativas de combate ao fanleaf. A Alsácia vem enfrentando problemas com seus belos vinhedos desde a Idade Média, quando estes foram enfileirados às margens do Reno. Muitas guerras e invasões foram motivadas também pelo terreno estratégico, arduamente disputado entre franceses e alemães. Numa outra direção, o imperador Napoleão Bonaparte simplesmente os repartiu entre amigos sem nenhum dom para esse empreendimento agrícola que requer muita dedicação. Recuperados no Segundo Império, os vinhedos foram dizimados com os prussianos de Bismarck, em 1870. Quem conta esse "vaivém França-Alemanha" é o jornalista e crítico Renato Machado em seu livro Em Volta do Vinho (Editora Globo/2004). Hitler chegou a anexar a região em 1940, Alsácia que voltou aos franceses no final da Segunda Guerra. A última investida contra os vinhedos foi essa promovida na cidadezinha de Colmar, onde o INRA tem seu vinhedo experimental – a Colmar da uva Riesling, que já foi chamada de gentil aromatique.É com ela que a Alsácia faz vinhos brancos que, como diz Renato Machado, são verdadeiras obras de arte.

http://www.inra.fr/

http://www.winespectator.com/webfeature/show/id/43586

Diário do Comércio de 22/110/2010

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