segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O tempo e o vinho em Matt Kramer

Os maiores vinhos não são grandes pelo poder que têm de nos subjugar, e sim por sua aparente infinitude. A frase é de Matt Kramer, que escreve sobre vinhos há mais de 30 anos e desde 1985 é colunista titular da revista Wine Spectator. A citação pode ser garimpada no livro Making Sense of Wine, de 1989, que ganhou no Brasil o título de Os Sentidos do Vinho (Editora Conrad/2007) – um clássico da literatura do gênero. Escritor de extensa obra, sempre com um coração na Itália, Kramer vive em Portland, Oregan (EUA). Acaba de lançar Matt Kramer on Wine (Sterling Epicure/2010), uma atraente coleção de colunas, ensaios e observações – textos que têm como fio condutor o tempo do vinho. "Tudo sobre vinho, especialmente o vinho fino, envolve o tempo", escreve Kramer. De certa forma avesso ao império efêmero das cotações (as safras se sucedem com novas e novas garrafas e a apreciação sempre tem o forte componente da memória individual), o autor selecionou justamente o material que venceu o tempo datado, em análises que privilegiam as circunstâncias perenes do vinho, como gostava de dizer Sérgio de Paula Santos. Kramer é sensível ao ritmo das estações e da produção – tempo que iguala o mais rico dos vinicultores ao mais pobre dos agricultores. Todos têm de esperar (e rezar). O autor gosta de outra ideia na mesma linha: se alguém quiser provar um grande vinho maduro, "terá de esperar trinta, quarenta, cinquenta anos necessários, não importando sua ambição ou conta bancária". "Somente o tempo pode fazer o vinho maduro". No campo da degustação, Kramer ajuda o leitor a lidar com um aparente paradoxo do vinho: a "infinita" complexidade de um item com destino (digamos, com tempo de vida) mais ou menos pré-determinado. Ele diz que a própria degustação do vinho precisa de tempo, de conversa e pode ser enriquecida com parâmetros herdados do conhecimento. Cursos de imersão? "Não funcionam". É fundamental "amadurecer". E para isso é preciso ler, viajar por regiões produtoras, experimentar vinhos não ranqueados, de uvas menos badaladas, ouvir a voz de viticultores, de enológos e até mesmo de críticos.

DC de 8/10/2010

Nenhum comentário: