sexta-feira, 12 de março de 2010

Cerro de las Cabezas

O avanço das buscas arqueológicas, com recursos de datação cada vez mais precisos, tem reescrito algumas histórias. É o caso das escavações no enclave conhecido como Cerro de las Cabezas, uma cidade do final da Idade do Bronze, com 140 mil m², em Valdepeñas, província de Ciudad Real, ao Sul de Castilla-La Mancha – sítio arqueológico que hoje é uma das atrações locais. Vestígios de sofisticadas instalações para produção de vinho, de 700 a.C., sugerem que os antigos ibéricos de Valdepeñas conheceram as técnicas de cultivo da vinha e da vinificação vários séculos antes do imaginado, diz Javier Pérez Avilés, o arqueólogo responsável pelos achados. Atualizada é então é aquela imagem de escritores espanhóis: migas com torresmos e chorizo e um bom vinho de Valdepeñas é o que têm almoçado os pastores manchegos a vida inteira. É conhecida a influência dos fenícios na Península Ibérica, para onde levaram a metalurgia, a roda do oleiro, o azeite e o vinho, rastros de civilização encontrados também em Cerro de Las Cabezas. Em 1.104 a.C. já tinham fundado Gadir ( a atual Cádiz) e estabelecido uma rota comercial importante no Mediterrâneo. Achados de barcos que naufragaram nesse percurso, com suas homéricas cargas em ânforas, atestam esse vigor comercial, aceso ainda mais com Cartago, fundada pelos fenícios de Tiro no século IX a. C. Os romanos posteriormente incrementaram as técnicas agrícolas e com senso profissional desenvolveram a produção. A região apresentou declínio somente diante das proibições corânicas, revogadas com uma inusitada bula do califa de plantão: o consumo de vinho estava liberado, sim, contanto que o vinho fosse de Valdepeñas. Os historiadores contam que, na reconquista, os monges templários criaram toda uma mística para o vinho da região, mais tarde celebrado pelos autores espanhóis do Século de Ouro. Era então cultuado de maneira menos específica como vinho de Ciudad Real, denominação que incluía boa parte da bebida produzida em La Mancha, como conta o pesquisador Pedro Plasencia em seu imperdível El Vino en los Clássicos Castellanos ( H. Blume/2006). Esse vinho foi elogiado por Sancho Pança de Cervantes e outros escritores trataram de mostrar as capacidades revigorantes do muy gentil vino de Ciudad Real. A fama mundial da chancela Valdepeñas é do século XVIII e XIX. Os românticos viajantes têm sua culpa no cartório ao mencionarem em suas cartas e relatos os vinhos de Valdepeñas que hoje correm o mundo.


http://www.patrimoniohistoricoclm.es/yacimiento-del-cerro-de-las-cabezas/

http://www.dovaldepenas.es/

DC de 12/3/2010

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