segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Dago Red que os Gallo querem esquecer

Um dos primeiros livros a tocar na ferida foi Blood and Wine: The Unauthorized Story of the Gallo Wine Empire, lançado em 1993 pela escritora Ellen Hawkes. Mostrava as conexões dos Gallo com Al Capone durante a Lei Seca (1920-33), dava detalhes de como os irmãos Joseph e Mike prosperaram na indústria ilegal de vinho na Califórnia, até a morte nunca totalmente esclarecida e muito suspeita de Joseph e sua mulher, Susie. Um ano depois da biografia não autorizada, Ernest e Julio (foto), filhos de Joseph, limpavam a ficha com Ernest & Julio: Our Story, depoimentos a Bruce B. Henderson. Agora entra em cena Jerome Tucille, que já biografou personalidades como Alan Greenspan, Rupert Murdoch e Donald Trump, com seu Gallo Be Thy Name (Phoenix Books, 2009), para traçar um perfil mais abrangente dos irmãos que ergueram um império que até hoje domina o mercado mundial de bebidas. Dados de 2009 da consultoria inglesa Intangible Business, mostram os Gallo em primeiro lugar no ranking, com 17,8% do mercado. Na sequência são listadas a Hardy’s (17,3%), empresa australiana comprada pela americana Constellation, a chilena Concha y Toro (15,9%) e a australiana Yellow Tail (9,8%). Tucille conta que, durante a Lei Seca, os Gallo dobraram a área de seus vinhedos na Califórnia, chegando a 259 mil ha. Faziam vinho da uva Alicante Bouschet, que era adulterado com água e açúcar, mistura batizada de "Dago Red". Trabalhavam também com o “vineglo”, suco de uva gelificado, capaz de fermentar em duas semanas quando misturado à água. Até entrar no negócio sozinho, o jovem Ernest Gallo acompanhou o pai muitas vezes na rota ferroviária do Norte da Califórnia até a Chicago de Al Capone. Sob o amparo da “demanda sacramental”, o vinho foi tratado de forma diferente pelas autoridades. Mas era preciso ter “conexões”, que a maioria dos vinicultores não tinha, mas que os Gallo souberam cultivar. Passada a Lei Seca, Ernest tratou de consolidar a marca Gallo como um trator, comprando novas propriedades e incorporando marcas. Atento ao marketing, teve muito êxito comercial com drinks pops como o Thunderbird e Ripple. E, importante, sempre esteve de bem com políticos influentes. Já na última década, com os descendentes no comando, a empresa tomou aparentemente um caminho politicamente correto pelo menos em termos ambientais. Até o próximo escândalo...

www.gallo.com

www.intangiblebusiness.com/store/data/files/471-The_Power_100_2009.pdf

Diário do Comércio

Nenhum comentário: