segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Beber como um franciscano

Uma velha canção francesa brinca com a sede dos monges – caricatural e divertida imagem do consumo e da produção de vinhos na Europa da Idade Média. Um dos versos populares, em livre tradução, diz : Beber como um capuchinho é beber pobremente,/Beber como um beneditino é beber profundamente,/Beber como um dominicano é beber taça após taça/Mas beber como um franciscano é beber até secar a adega! A State Library of South Australia, que mantém um site com a memória da literatura mundial do vinho, tem entre as obras de destaque fragmento de um texto de cerca mil anos que trata da punição de monges beberrões. O Decretum, escrito por Burchard de Worms num mosteiro da Alemanha, na primeira metade do século XI, faz um alerta aos noviços. Em latim, e em admirável tipologia carolíngea, o manuscrito determina: 15 dias de pão e água para quem beber tanto que tenha de vomitar; 30 dias da mesma dieta para o monge que, bêbado, encorajar outros na mesma direção; 40 dias de pão e água para o religioso que, embriagado, vomitar o vinho e a sagrada hóstia. Outra boa história envolvendo monges, desta feita cistercienses, foi contada pelo inglês Edward Ott em seu livro From Barrell to Bottle, de 1953. Faz anedota com a constatação de que os modernos borgonhas não são como os antigos vinhos produzidos nessa região da França. Numa visita que fez a Clos de Vougeot, fundada pelos cistercienses em 1150, descobriu atrás das prensas enigmáticas anotações:"1P, 2P, 3P". O "P" seria uma abreviatura da palavra francesa pigeage, a rotina criada pelos monges que, nos tanques de fermentação, empurravam cascas e sólidos das uvas para baixo, com os pés. Pulavam nas barricas nus, três vezes durante o processo. Seriam os únicos banhos do ano, brinca Ott.

http://www.winelit.slsa.sa.gov.au/topdozen.htm

http://www.newyorkcarver.com/wine.htm

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