segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A Colina de Magris

A Colina de Turim, com seus bosques, veredas, vilarejos, vilas barrocas e neoclássicas, organizados vinhedos (e nada isentos apreciadores de Freisa e Barbera), mereceu um texto apaixonado de Claudio Magris, um dos intelectuais italianos mais originais da atualidade. Em Microcosmos (Rocco/1997), o triestino ergue pequenos monumentos ao universal a partir de uma torrente de particularismos históricos, geográficos e culturais. A viagem literária pelo Norte da Itália, com destaque para a sua Trieste e o Piemonte de coração, rendeu um precioso relato sobre a Collina Torinese – "ondulada, variada", tendo a seus pés a Turim "geométrica, esquadrinhada" –, com ênfase nas "existências entrelaçadas". O personagem Dom Girotto (1857-1943), arciprestre de Revigliasco por 52 anos, é um pouco dessa síntese. "Filósofo-latinista-enólogo", seu tema predileto girava em torno da pequenez do ser humano e sua finitude, um entendimento compartilhado que tinha um quê libertário. Ainda hoje, no oratório que leva seu nome "troneiam várias garrafas dos épicos vinhos tintos do Piemonte", descreve Magris. O latinista-enólogo certamente sabia que "a superfície daquele latim (e sua magniloqüente irrealidade) assemelhava-se ao sabor do Barbera e do Dolcetto, vinhos tão ligeiros a escorregar no copo e na garganta, dignos dos cuidados e da competência que Girotto dedicava aos dons da videira, numa simbiose de teologia e enologia não rara por essas colinas (...)"

http://www.arpnet.it/pronto/progetti/collina/collina.html

http://www.italialibri.net/autori/magrisc.html

DC 23/11/2007

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