Vinho para a saúde. Vinho contra a doença. Hipócrates (460-370 a. C.), o grego pai da Medicina, sempre recomendou a bebida para doentes e saudáveis, em doses de bom senso. Os romanos descreveram e documentaram muitas de suas receitas com vinho. O árabe Avicena, no século X, também considerou o vinho bom para remédio e o celebrou na sua medicina: "o vinho é o amigo do moderado e o inimigo do beberrão." Bem antes dele, entretanto, os egípcios já aviavam suas receitas com ervas em finas misturas com a bebida. Um papiro datado de 1850 a.C. deu algumas pistas da farmacopéia natural dos faraós. Agora, graças à arqueologia molecular e seus modernos recursos de análise química, a composição dos remédios usados durante milênios no Antigo Egito começam a ser meticulosamente desvendados. Um time de pesquisadores liderados pelo arqueólogo Patrick McGovern, da Universidade da Pennsylvania, conseguiu a primeira evidência química direta desses vinhos aditivados com ervas e plantas. Testes em resíduos de peças arqueológicas deram positivo para vinhos e aditivos orgânicos. Estavam presentes, por exemplo, no anel amarelado da jarra encontrada em Abydos, Alto Egito, na tumba de Escorpião I (3.150 a.C.), um dos primeiros faraós, e também na ânfora escavada em Gebel Adda, no sul do país, com datação entre os séculos IV e VI d.C.. Comprovam, assim, um arco milenar dessa prática. Uma das ervas na jarra de Abydos é o coentro, conhecido no combate a males do estômago. Estudos futuros devem confirmar a presença de sálvia, hortelã, segurelha e tomilho. Na ânfora de Gebel Adda, evidências arqueobotânicas e moleculares mostram que alecrim foi misturado ao vinho resinado. Justamente a erva que contém grande número de componentes químicos antioxidantes – panaceia que vem dos faraós ? Cientistas liderados por McGovern comemoram. Acabam de publicar um artigo na primeira edição online do PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), com todos os detalhes dos experimentos e da tecnologia de ponta utilizada. Acreditam que estudos cada vez mais rigorosos vão desvendar milênios de uma eficiente medicina natural. "Talvez o que eles conheciam possa ser 'reescavado' e aplicado na saúde e na medicina do século XXI".
http://www.pnas.org/content/early/2009/04/13/0811578106.abstract
http://www.museum.upenn.edu/
Diário do Comércio de 22 de maio de 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Os jardins de Hugh Johnson
A Royal Horticultural Society (RHS), instituição fundada em Londres em 1804, acaba de lançar In the Garden, livro editado por Mitchell Beazley. O que uma publicação que trata de jardins estaria fazendo numa coluna de vinhos? É que o autor de In the Garden é ninguém menos que Hugh Johnson, um dos mais respeitados críticos de vinho da atualidade, com duas obras referenciais: A História do Vinho e o indispensável The World Atlas of Wine, editado no Brasil pela Nova Fronteira. Além de vinhedos e châteaux, Hugh Johnson conhece jardins em todo mundo e cultiva o seu em uma belíssima propriedade na Inglaterra. O novo livro reúne textos escritos como um diário para a RHS, publicados de 1993 a 2008. Entretanto, muito longe de um livro de auto-ajuda a jardineiros e paisagistas, interessados nos nexos entre plantas e estações, In the Garden completa o perfil de requinte de seu autor. É ali que ficamos sabendo como o enófilo apura seus sentidos. Educação que passa pela "Hidrophonia", disciplina que envolve os muitos sons das águas ao cair em cascatas e fontes. Johnson estuda a harmonia desses pingos, sinfonias entre os verdes. Os ventos também cantam ao passar por entre as plantas. O bom jardineiro deve ter isso em conta: é preciso estudar a posição de bambuzais e das grandes árvores para que toda a escala de sons funcione bem. Ele está interessado também na luz, focos que podem potencializar cores e detalhar recortes e filigranas de flores e folhas. Como enófilo, é claro, faz uma declaração de amor à vide: "não há nada como colher de uma videira como treinamento para pensarmos como uma planta".
http://www.rhs.org.uk/
www.trasdiary.com
Diário do Comércio de 15/05/2009
http://www.rhs.org.uk/
www.trasdiary.com
Diário do Comércio de 15/05/2009
sexta-feira, 8 de maio de 2009
O que diz o Monte Testaccio
O Testaccio, erguido em um dos distritos (rioni) de Roma, nas imediações do rio Tibre, é um monte todo feito de pedaços de ânforas – 40 milhões delas, segundo cálculos dos arqueólogos. A chamada "colina envergonhada" foi usada durante séculos como área de descarte pelos antigos romanos, em época áurea. Escravos e mulas tiveram de penar transportando cacos da cerâmica destinada ao lixo. A grande maioria das ânforas que formam o Testaccio era utilizada no efervescente comércio de azeite. Mas há as usadas para o vinho, outro produto importante da dieta romana. O Testaccio é registro imponente da sede de consumo de uma cidade poderosa, onde há cerca de dois mil anos contava-se um milhão de habitantes. Para abastecer a "metrópole" superpovoada era necessário importar grãos, azeite, vinho. Considerando-se que essas ânforas tinham capacidade para 50 litros (11 galões imperiais), e provavelmente foram usadas mais de uma vez, falar em 40 milhões de unidades é tratar de superlativo fluxo de mercadorias entre as várias possessões do Império. Muitos dos fragmentos já retirados nas escavações no Testaccio têm inscrição de origem muito precisa: a Baetica, região da então romana Hispania, hoje a espanhola Andaluzia, terra de 200 milhões de oliveiras e bons azeites. Os ricos romanos também gostavam de vinhos de outras praças, da Campânia, por exemplo, onde a videira em terra vulcânica é cultivada desde o século XIII a.C.. As primeiras escavações no Testaccio foram feitas em 1872. Por meio delas, os estudiosos descobriram também que o monte foi usado, na Idade Média, como local para adegas. É que o "frescor" presente em nichos com paredes de cerâmica era ideal para a preservação dos vinhos. Hoje o Testaccio ferve é com bares da moda, onde vinhos e azeites vivos estão no cardápio.
http://www.testaccio.roma.it/
http://ceipac.gh.ub.es/MOSTRA/e_expo.htm
DC de 8/Maio/2009
http://www.testaccio.roma.it/
http://ceipac.gh.ub.es/MOSTRA/e_expo.htm
DC de 8/Maio/2009
segunda-feira, 27 de abril de 2009
AVA com alma AOC
Uma tirada de Charles de Gaulle (1890-1970), defensor que era, nos campos de batalha, da concentração de forças, sempre é lembrada quando o tema são as classificações regionais, tão ao gosto dos franceses. "Como alguém pode governar um país com 246 queijos?" Contado o orgulho e cada pé de serra, o número de queijos seria muitíssimo maior, do tamanho da montanha de produtores. A União Européia entrou em campo em 1992 e instituiu, para funcionar ao lado da tradicional AOC (Appellation d'Origine Contrôlée), um selo algo mais restritivo, o PDO (Protected Designation of Origin). Atende com atraso aos reclamos do general ou cria nova escalada de especificidades? O professor Michael Veseth , da Universidade de Puget Sound (Washington), usou a frase de De Gaulle como epígrafe de um texto sobre a enxurrada de AVAs (American Viticultural Area) que recorta as regiões vinícolas dos Estados Unidos além das fronteiras políticas – regulação só aparentemente inspirada nas AOC francesas. Apellattions que primeiro garantiram sobrevivência aos vignerons, depois qualidade aos vinhos até a promoção das regiões vinícolas da França, a começar de Champagne. "How Many AVAs are Enough?" (Quantas AVAs são suficientes?) é a pergunta-título de um artigo publicado por Veseth no site da American Association of Wine Economists. Já são cerca de 200 áreas nos EUA, a mais recente ganhou os contornos de Snipe's Mountain (Washington). Segundo Veseth, essas designações mais complicam que esclarecem o consumidor sobre a procedência do vinho, acostumados estavam com os rótulos varietais impressos por cada estado. Zinfandel da Califórnia ainda é um orgulhoso rótulo para o vinho produzido com uvas de Sonoma, Mendocino e Lodi. Essas três regiões AVAs específicas têm rótulo próprio somente quando produzem vinhos com 85% de uvas locais. Diante de uma Califórnia retalhada por AVAs ligadas muito mais ao território que ao fazer, resta entretanto uma experiência muito especial em Mendocino, onde produtores têm se esmerado na criação de vinhos AVA com alma AOC. Ou seja, acreditam na delimitação geográfica, mas adotaram critérios rígidos de produção, com cepas escolhidas a dedo. Vale a pena conhecer a sanha dessa organização de vinicultores, o Coro Mendocino, vozes diferentes na Califórnia.
http://www.sipmendocino.com/wineries/coro_mendocino.asp
http://wine-econ.org/2009/02/27/how-many-avas-are-enough.aspx
Diário do Comércio/24/04/2009
http://www.sipmendocino.com/wineries/coro_mendocino.asp
http://wine-econ.org/2009/02/27/how-many-avas-are-enough.aspx
Diário do Comércio/24/04/2009
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