quinta-feira, 3 de abril de 2014

Monseigneur Le Vin

Depois da Primeira Guerra Mundial, "a guerra que iria acabar com todas as guerras", a ordem era brilhar, ainda com um pouco de lembrança da Belle Époque. Paris seguiu à risca, como nenhuma outra capital européia, os motes da retomada, recebendo em festa escritores, artistas, intelectuais, como Picasso, Hemingway, Gertrude Stein. Livros, quadros, música, vinhos e champagne foram protagonistas de uma época de requintes. A cadeia de lojas Nicolas, "a petite maison rouge" que até hoje pontua Paris, entrou na onda desse Pós-Guerra de sonho com seus catálogos e livros sobre vinho, arregimentando em mecenato os melhores ilustradores e desenhistas da época. Uma obra de destaque foi Monseigneur Le Vin, cinco pequenos volumes, quatro deles de autoria de Georges Montorgueil, escritos entre 1924 e 1927. O último volume da série, L'Art de Boire (A arte de Beber) virou cult entre designers dada a qualidade gráfica incomparável das ilustrações de Charles Martin e textos do romancista Louis Forest. Com sutil humor, Forest escreve a título de preâmbulo e dá o tom da publicação: "De acordo com um velho provérbio, 'quando o vinho é servido, tem de ser bebido'. Essa é uma máxima deplorável. E certamente não serve de inspiração para uma mente fina. Um gourmet teria escrito: 'quando o vinho é servido, é preciso saber como bebê-lo". O manual da Nicolas, distribuído gratuitamente para clientes, era, na verdade, um guia para o chamado "bebedor civilizado". Monseigneur Le Vin ganhou uma edição adaptada do Metropolitan Museum of Art, de Nova York, rebatizada de Wine Album (2011), que valorizou a primorosa série de ilustrações de Charles Martin. Em lojas de livros raros também é possivel encontrar exemplares das primeiras edições, entre elas L'Art de Boire, de 1927. A Nicolas foi fundada em 1822, um ano após a morte de Napoleão. Ettienne Nicolas foi um visionário que decidiu vender garrafas de vinho no varejo, de acordo com a demanda, e não só no costumeiro atacado. Ficou célebre um dos cartazes de publicidade da casa, onde o entregador Nectar leva nas mãos nada menos do que 32 garrafas, de uma só vez. Nectar foi desenhado pelo cartunista Dransy, cem anos depois da criação da Nicolas, quando já existiam mais de 200 pontos de venda. Inovava-se também ao entregar vinhos em casa, em triciclos, numa Paris em festa. DC de 4/04/2014

Nenhum comentário: