segunda-feira, 17 de junho de 2013

Vinhedos estrelados

De bicicleta, o cantor STING e sua mulher Turdie observam o cenário exuberante da Toscana – patrimônio da humanidade. Estão em Figline Valdarno, entre vinhedos, oliveiras, uma criação de abelhas e de porcos cinta senese. Sting diz que agora é dali daquele histórico território que tira o alimento para sua mesa e para sua alma de artista. Il Palagio é a propriedade de 120 hectares do casal, onde se produz vinhos desde o século XVIII. Hoje é área para a cuidadosa agricultura biodinâmica dos Sting. Na loja que abriram nas imediações, vendem o mel de que têm tanto orgulho, salsichas especiais desses porcos de Siena, azeite e os vinhos que passaram a fazer parte de sua rotina. Dois rótulos de STING ganharam nome de suas canções Sister Moon (uvas Sangiovese, Merlot e Cabernet Sauvignon) e When We Dance, este com um blend de uvas típicas da região (Sangiovese, Canaiolo e Colorino). Condecorado aos pés do grande David de Michelangelo, na Galleria dell’Accademia de Florença, o cantor se diz orgulhoso em estar na Toscana, diante de tantas raízes históricas. E há coerência entre o manejo de sua vinícola e seu discurso prévio em defesa da sustentabilidade. (É certo que Raoni ainda não foi visto por lá). Detalhes do dia a dia de vinicultores-celebridades como Sting recheiam tanto revistas especializadas como as de tipo Caras. Alguns foram parar no recém-lançado Celebrity Vineyards: From Napa to Tuscany in Search of Great Wine (Flexibound/2013), de Nick Wise. Nessa obra, até o presidente THOMAS JEFFERSON (1743-1826) ganhou uma homenagem pelos vinhedos que plantou e que seguem em produção em Monticello. Num movimento iniciado há algumas décadas nos Estados Unidos, não só cantores, mas roqueiros, atores e ex-esportistas passaram a ver no mundo do vinho espaço para negócios e glamour, em relações mais ou menos intensas. MADONNA nunca foi vista com uma tesoura nas mãos. E dificilmente participou de uma colheita em vinhedos na Península de Leelanau, no Michigan, onde seu pai construiu em 1996 a Vinícola Ciccone. Mas "irrigou" a propriedade e aparece na lista de personalidades do mundo do vinho. O ítalo-americano MÁRIO ANDRETTI, ao se aposentar das pistas de corrida, passou a cuidar de vinhedos no Distrito de Oak Knoll, no Vale do Napa, numa propriedade de 16 ha, perto de Yountville. Acompanha de perto a série de vinhos Montona Reserva e orgulha-se da velocidade com que os prêmios chegaram. A família do cineasta Francis Ford COPPOLA produz vinhos na Califórnia desde 1975. Foi um caso de amor à primeira vista. Ele e a mulher, Eleonor, foram passar uma temporada de verão na tradicional propriedade Inglenook, em Rutherford. Diante das lembranças de tradição familiar ligada aos vinhos e da montanha de dinheiro conquistado com seu O Poderoso Chefão, COPPOLA decidiu comprar a propriedade e, mais tarde, restaurar seu château. A Inglenook foi criada em 1879 por Gustave Niebaum, jovem capitão filandês que enriqueceu com uma companhia mercante no Alaska. Até que a mulher californiana o convenceu a mostrar ao mundo que os vinhos locais poderiam ser tão bons quanto os europeus. Coppola batizou a Inglenook ressuscitada de vinícola Niebaum-Coppola – hoje o cineasta está feliz com o resgaste jurídico da marca Inglenook. Tem produzido vinhos finos com a uva Cabernet Sauvignon em Rutherford, praça dos grandes “cabs” americanos. Toca também a mais popular Francis Ford Coppola Winery, em Geyserville, mais que uma vinícola, um grande parque. Rubicon é o vinho de coração de Coppola. Ao entrar no ramo, o cineasta lembrou-se da célebre marcha de César a Roma. Cruzar o rio Rubicão implicava que não havia mais retorno. Todos os vinhos do império Coppola são hoje de uvas de seus próprios vinhedos, incluída a Zinfandel. A atriz OLÍVIA NEWTON-JOHN lançou sua vinícola Koala Blue em 1983 na Austrália, e a ideia era mostrar ao mundo o poder do terroir australiano. Já BOB DYLAN fez uma parceria com o italiano Antonio Terni, viticultor e fã ardoroso do cantor (não se sabe bem em que ordem). Produzem na Fattoria Le Terrazze, em Numana, perto de Ancona, uma série de vinhos, os Planet Waves, inspirados notítulo de um álbum seu de 1974. Dylan assina os rótulos. MICK HUCKNALL, vocalista líder do Simply Red, foi mais longe, até a Sicília, para montar a sua vinícola. Desde 2001 a Il Cantante faz seus vinhos em 20 ha de solo vulcânico, nos terraços ao redor do Etna. Usam as uvas locais Nerello Mascalese e a Nerello Cappuccio e acompanham o boom desses vinhos produzidos na Sicília. O ator ANTONIO BANDERAS está produzindo suas garrafas em Villalba de Duero, em Burgos, no coração de Ribera del Duero. O projeto da Vinícola Anta é de 1999. A arquitetura da bodega, em vidro e madeira, inteiramente sustentável, é um show. Banderas entrou no negócio em 2009 e acrescentou o Banderas ao nome da casa. O ator francês e vigneron (como faz questão de ser chamado) GERARD DEPARDIEU bate todas essas celebridades em número de propriedades. Tem sua base no célebre Château Tigné, entre Angers e Saumur, no Vale do Loire. E L'Esprit de la Fontaine, no Languedoc-Roussillon. Cuida ainda de vinícolas na Argentina, Marrocos, Argélia, Espanha, Sicília e Estados Unidos.

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