quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Um Mistral chamado Karis

Chefe e roqueiro na juventude, depois médico, o americano Harry Karis tornou-se um especialista nos vinhos de Châteauneuf-du-Pape, histórica região vinícola no Sul do Vale do Rhône, na Provence. Seu livro The Châteauneuf-du-Pape Wine Book, em edição de autor, pela riqueza de detalhes geológicos e climáticos e mapeamento rigoroso das propriedades que somam hoje 3.231 hectares, passou a ser uma obra de referência, avalizada pelo crítico Robert Parker. Ele assina o prefácio e confessa que eram as histórias que gostaria de ter escrito. Para Michel Blanc, da Federação dos Sindicatos de Produtores de Châteauneuf-du-Pape, o trabalho de Karis é visto como uma homenagem às gerações de vignerons da região, que conseguem um excelente produto mesmo enfrentando condições adversas, como os ventos do inverno e o superaquecido verão provençal. Karis ouviu especialistas para descrever de maneira completa o papel do Mistral – "amigo ou inimigo?" – esse vento forte, frio e seco que varre o corredor vinícola do Vale do Rhône e lhe dá personalidade única. Só esse capítulo já mereceria todos os elogios que a publicação tem recebido. O livro de Karis pode ser entendido em duas grandes seções. Uma, com informações gerais da appelation e das cinco municipalidades (commnunes) que a compõem (Châteauneuf-du-Pape, Courthézon, Bédarrides, Orange e Sorgues), percorrendo uma linha do tempo que passa pelos templários, pelos papas de Avignon, pela devastação da peste... Trata também da definição das fronteiras da apelação, estabelecidas em 1937 pelo Barão de Roy, da devastadora Phylloxera que quase põe fim à viticultura européia na segunda metade do século XIX, até os ventos de renovação nos anos 1980 e 1990. Karis faz ainda uma declaração de amor à uva grenache – "a mais hedonística variedada da Terra" – listando as outras 12 cepas permitidas no sutil blend de Châteauneuf-du-Pape (syrah, mourvèdre, picpoul,terret noir,counoise, muscardin, vaccarèse, picardin, cinsault, clairette, roussane e bourboulene). Em Châteauneuf estão tanto as mais antigas vinhas conhecidas de grenache como as ruínas do que foi o castelo dos papas, hoje restauradas e usadas para festivais. A segunda parte da obra traz um grande diretório de vinicultores locais, com o perfil de cada propriedade percorrida por ele e o filho Phil (fotógrafo e designer responsável pelo projeto gráfico do livro) nessa selva de nomes e locais que é Châteauneuf-du-Pape. DC de 11/01/2013

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