sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Assyrtiko, a rainha de Santorini.

A autóctone assyrtiko é a cepa de 80% dos vinhedos de Santorini, uma das Cíclades, responsável por vinhos brancos de qualidade que vão ganhando o mundo graças às apreciadas características de alta acidez e mineralidade de solo vulcânico. Neste agosto, com o início da colheita, a ilha vive uma verdadeira onda de festas (panigyria), incorporando nas celebrações gastronômicas e religiosas a massa de turistas de verão. Nos anos 80, a produção ainda era de vinho barato, vendido para misturas, e, como diz um analista local, "os vinhedos eram sacrificados no altar do 'quarto para alugar' e do 'mini market'", referindo-se ao boom imobiliário. Nos últimos anos, com novas gerações à frente dos negócios, a vitiviniticultura se profissionalizou – há pelo menos 10 vinícolas de respeito – e passou a ser reconhecida como grande reforço à vocação turística da ilha. Quem visita hoje Santorini verá que as parreiras de chão, retorcidas e moldadas como pequenos ninhos (invenção fenícia contra as ventanias), estão por toda parte, dos organizados platôs da vila de Pyrgos aos terrenos mais ou menos escarpados. Foram plantados ainda, sem cerimônia, entre hotéis e restaurantes. A tradicional Canava Roussos de Ioannis Roussos, fundada em 1836, mantém alguns dos seus pés na vizinhança do sítio arqueológico minóico de Akrotiri. A Boutari tem instalações modernas em Megalohori (foto). Além da Assyrtiko, a Aldani e Athyri são as duas cepas brancas que participam no blend dos regulamentados vinhos Santorini. Entre as variedades tintas, os destaques são a Mantilaria e a Mavrotragno. As raras Voudomato, Katsano, Gaidouria, Flaskia, Potamisi, Mavrathyro e Aitonyhi, entre quase 4 dezenas de cepas locais, também começam a ser vinificadas, em pequena escala. Antes dos brancos, Santorini sempre vendeu seu Vinsanto, vinho de sobremesa escuro e forte. No final do século XIX, os russos compravam quase todos esses vinhos doces. Mas já há rosés de qualidade, como o da vinícola Artemis Karamolegos, que pode ser harmonizado com pratos sofisticados dos restaurantes Elia, na praia de Kamari, ou do célebre 1800, em Oia, este comandado pelo arquiteto-restaurador Ioannis Zagelidis. A verdade é que os arqueobotânicos de plantão ainda têm uma pergunta sem resposta sobre a viticultura na tormentosa Santorini: como pôde a varietal Assyrtiko sobreviver milhares de anos, mesmo depois da grande erupção de 1.600 AC que destruiu tudo por lá, transformando a própria cara da ilha. Certo mesmo é que a parreiras de Assyrtiko encontradas hoje em Santorini são filhas legítimas da mesmíssima planta que por ali estava há muito mais de 3 mil anos, escreveu o estudioso americano Curt Christopher Freesa, da Universidade de Cincinatti. P.S.: A importadora Vinci tem dois desses ícones brancos no seu catálogo – Kallisti e Santorini. DC de 10/08/2012

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