sexta-feira, 1 de junho de 2012

Torta Dobos e vinícolas de charme

Conhecer a vitivinicultura italiana é como enfrentar uma Torta Dobos, aquela obscena, clássica e deliciosa especialidade vienense criada por um padeiro húngaro e que virou emblema depois de passar pela mesa dos Habsburgos. Você tem de, inevitavelmente, começar apreciando camada por camada, aceitando o fato de que a única saída é, paradoxalmente, mergulhar dentro dela. A imagem é do escritor americano Matt Kramer (Wine Spectator), em Making Sense of Italian Wine (Running Press Book Publishers/2006) e cai como uma luva sobre o recém-lançado Vinícolas de Charme – Itália (Inbook/2012), editado por Claudio Schleder , com textos de Patrícia Jota e Breno Raigorodsky, que também empresta consultoria técnica ao projeto. Para esse recorte de charme, que incluiu 50 vinícolas – do Piemonte à Sicília, taças em profusão na Toscana de Marchesi Antinori – foram consideradas a qualidade e especialidade dos vinhos nelas produzidos, mas, mais do que isso, como explicam seus autores, entraram em conta a beleza e o capricho dos vinhedos, a tradição no manejo dos parreirais, a história das localidades visitadas, o acolhimento de quem faz vinhos com alma. Mas é preciso lembrar que há um critério jornalístico, de serviço, já que vinhos das casas descritas podem ser encontrados nos catálogos das nossas principais importadoras. A seleção proposta é um bom início para entender uma Itália com perto de um milhão de produtores (de todos os calibres), 350 cepas "autorizadas", 329 vinhos DOC e 73 DOGC (Denominazione di Origine Controllata e Garantita), distribuídos num mapa de desenho intrincado que pode levar o viajante desavisado quase à loucura. Não é preciso dizer que muitas vezes a tradição (ou a quebra inteligente desta) leva ao charme, o que significa a inevitável inclusão neste livro de vinhos de um ícone como Angelo Gaja, que revolucionou o estilo dos tintos do Piemonte, e garrafas de Vietti e Pio Cesare, para ficar na terra dos Barolo. Entre as vinícolas de charme da Toscana, está Castello di Ama, na zona do Chianti Clássico, onde as barricas de vinho dividem modernamente espaço e paixão com arte contemporânea. Da Sicília, Donnafugata, seus orgulhosos vinhedos de uvas autóctones e uma ligação de nomes e rótulos que evocam a ilha de Lampedusa e O Leopardo(a entrada Donnafuggata poderia ter explorado este aspecto de charme). Com o mesmo espírito, a InBook já editou Vinícolas de Charme - Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, sobre os vinhos top do Cone Sul, e Champagne & vinhos borbulhantes. P.S.: Vale sempre o crédito: Claudio Schleder, editor experiente e requintado, trouxe o pop e o vanguardismo de Andy Warhol e sua NY para a versão brasileira da revista Interview, criada com Richard Raillet, ao som de Rolling Stones, em dezembro de 1977. DC de 1/6/2012

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