quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Púrpuras no Mediterrâneo

Os fenícios tingiam de vermelho o Mediterrâneo, empinando barcos com proas de cabeça de cavalo – assim estão representados na parede do palácio de Sargon, em Khosabad, do século VII a.C. Os gregos invejavam os mantos desses antigos homens do mar, roupas de cor púrpura, de pigmentos extraídos do Murex trunculus, molusco em profusão nas águas que banham sua terra de origem, na faixa hoje correspondente ao Líbano e à Síria – "a tripa que corre entre montanhas e o mar", como escreveu o historiador Fernand Braudel em Les Mémoires de la Mediterranée. Na carga dos navios, produtos para serem comercializados no oeste desse mar, outros púrpuras, ânforas de vinho que testemunham a dimensão do comércio que regiam. Arqueólogos submarinos comandados por Robert D. Ballard, o mesmo da descoberta do Titanic, têm corroborado as teses do grego Heródoto (c.485–420 a.C). O historiador e geógrafo escreveu que os navios fenícios tinham os melhores marinheiros, sendo os de Sidon, os melhores entre os fenícios". Os arqueólogos acreditam nessa habilidade: um dos navios de descoberta mais recente, de 2.800 anos, empreendia a seguinte rota: zarpava do porto de Tiro, parava em Ashkelon e seguia rumo ao Egito ou especificamente para Cartago, Norte da África. Numa das viagens, um poderoso vento leste tirou o navio da rota e a embarcação naufragou na costa de Israel. Robôs com câmeras fotográficas registraram no fundo do mar uma espantosa carga de 400 ânforas de vinho. Andrew Dalby, em Siren Feasts ( Routledge/1996), conta que, nessa época, os egípcios produziam tintos e brancos, mas em pequenas quantidades, e tinham de importar de gregos e fenícios. Na 'História de Sinube' , uma narrativa do segundo milênio a. C., um egípcio em visita a Biblos elogia toda a Fenícia, onde o mel é abundante e onde há mais vinho do que água".

DC de 3/09/2010

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